Marcos Virgílio, dono da Barraca Virgílio na Praia do Pepê, critica a PEC de privatização das Praias e defende a Natureza como bem democrático

  A proposta de emenda constitucional (PEC) que prevê a privatização de áreas de praia tem gerado um intenso debate nas redes sociais e em diversos setores da sociedade. Recentemente, o jogador Neymar trouxe o assunto à tona, após manifestar o desejo de privatizar a praia onde possui uma mansão em Mangaratiba. A repercussão foi imediata e polêmica, envolvendo diversas figuras públicas e internautas.

Em meio a essa discussão, fomos até a Praia do Pepê, na Barra da Tijuca, para ouvir a opinião de quem vive e trabalha diretamente no local. Marcos Virgílio, dono da famosa Barraca Virgílio, compartilhou sua visão sobre a PEC das Praias e as possíveis consequências de sua aprovação.

"Acho um absurdo, né? A praia é gratuita para todos. Entendemos que é um ambiente democrático onde todos se encontram – ricos, pobres, jovens, idosos. É o bem mais precioso que temos, algo que a natureza nos deu. Privatizar as praias seria um golpe na nossa liberdade e um ataque ao nosso direito de desfrutar gratuitamente desse espaço," afirmou Marcos Virgílio.

Impacto Econômico

Marcos Virgílio depende da sua barraca para sustentar sua família e emprega diversos ajudantes que também têm suas rendas diretamente ligadas à atividade na praia. Segundo ele, não são apenas os barraqueiros que seriam afetados pela privatização das praias, mas também uma vasta rede de trabalhadores informais que vendem desde mate e empadinhas até artesanatos e biscoitos Globo.

"Vai ser um efeito cascata. Não só nós trabalhadores e banhistas perderemos, mas também as empresas que nos fornecem materiais e bebidas. Todos esses comerciantes informais e os negócios que os abastecem serão profundamente impactados," explicou Virgílio.

Questão de Propriedade

Quando questionado se ele próprio, se tivesse uma ilha ou praia particular como Neymar, também gostaria de privatizá-la, Marcos foi claro: "É diferente quando é uma propriedade que você adquiriu com seu esforço e dinheiro. Mas generalizar isso para todo o Brasil, para todos os litorais, é um absurdo."

Investimentos e União

Virgílio destacou que a União poderia gerir os investimentos em praias sem a necessidade de privatização. "Se um empresário quiser investir, seja bem-vindo. Vai gerar empregos e turismo. Mas isso pode ser feito mantendo a praia pública. A União pode ceder áreas para investimentos sem transferir a propriedade para particulares ou para os municípios e estados. É possível equilibrar os interesses econômicos com a preservação do caráter democrático das praias."

A opinião de Marcos Virgílio reflete a preocupação de muitos que vivem e trabalham nas praias do Brasil. A PEC das Praias, se aprovada, pode alterar profundamente a dinâmica social e econômica desses espaços, que há muito tempo são vistos como patrimônio natural e democrático. A discussão continua, e a sociedade aguarda com apreensão os desdobramentos dessa proposta.

Por Jéssica Porto e Robson Talber/ Thiago Sodré
 

Por Jornal da República em 06/06/2024
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