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Do UOL
Miliciano mais procurado do Rio de Janeiro, Zinho teria se entregado, por medo de ser executado. Além disso, a prisão dele deve colocar fim a aliança entre o grupo miliciano e a facção criminosa Comando Vermelho.
O que aconteceu
Medo de morrer é um dos principais motivos apontados para a rendição de Zinho. Segundo fontes com acesso a informações de pessoas próximas a ele, o miliciano estaria com medo de ser assassinado por integrantes do Comando Vermelho, por inimigos de outras milícias e até mesmo pela polícia.
Zinho se entregou temendo a própria segurança. "Nenhum bandido se entrega de bom grado na tarde da véspera do Natal. Ele percebeu que era a melhor alternativa para preservar a vida dele naquele momento", afirmou secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli à GloboNews.
Pessoas ligadas a Zinho dizem que ele "não queria guerra com o estado". Para ele e para os negócios da milícia, seria melhor estar "privado" do que "sofrer a covardia que Ecko" e outros nomes relacionados ao grupo sofreram.
Zinho é apontado como um homem de perfil ligado à contabilidade do grupo, ao contrário do irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko. Morto em junho de 2021, na comunidade das Três Pontes, em Paciência, também na zona oeste do Rio, Ecko era conhecido por ter um perfil mais violento.
A proximidade com o Comando Vermelho
Os primeiro indícios da articulação costurada por Zinho e membros do CV surgiram no início do ano. Investigações da Polícia Civil indicam que o Comando Vermelho passou a atuar na Gardênia Azul, reduto tradicional da milícia na zona oeste do Rio.
A aliança entre o Comando Vermelho e a milícia teria sido articulada por Zinho e Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha. Com a substituição de Abelha por Pezão, surgiram os primeiros sinais do enfraquecimento da relação.
Investigações apontam uma parceria que envolve fornecimento de armamento pesado para confrontos com rivais e uma aliança comercial. Segundo a Draco, delegacia especializada em ações de grupos paramilitares, a aliança envolvia a cúpula do CV e da milícia.
A associação criminosa envolve venda de drogas e permissão para explorar o território com práticas já ligadas à milícia. Isso inclui venda de gás, água, transporte irregular e cobrança de taxa a moradores e comerciantes, indicam as investigações.
As negociações foram seladas no Complexo da Penha, zona norte do Rio, de acordo com fontes ligadas à investigação. A região é apontada como o principal reduto do Comando Vermelho.
Ligação com deputada estadual
A prisão de Zinho também revela ligações da milícia com a deputada estadual Lúcia de Barros, a Lucinha, do PSD. Na segunda-feira (18), a PF e o MP-RJ fizeram uma operação para investigar uma suposta atuação da parlamentar com a milícia que atua na zona oeste da capital fluminense. A parlamentar foi afastada do cargo por ordem do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
A parlamentar era chamada de madrinha por Zinho. Durante a ação da PF, o gabinete da parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro também foi revistado. O Tribunal de Justiça do Rio proibiu a deputada de manter contato com investigados e de frequentar a Casa Legislativa.
Autoridades ouvidas pela reportagem relacionam a rendição de Zinho também às buscas relacionadas nas últimas operações que fizeram buscas na casa deputada.
Investigações
O ministro da Justiça disse ao UOL que a prisão de Zinho está ligada a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) nos portos e aeroportos do estado. "Também [tem relação] ao desmonte de parte do esquema de tráfico de armas via Paraguai", afirmou Flávio Dino.
"É possível afirmar que, a cada ação bem sucedida, surgem informações e caminhos para outras ações e mais resultados", disse ele sem especificar a relação. "A relação não é de causa e efeito. Importante destacar que as ações em série mostram que o crime organizado não é invencível."
Dino exaltou o trabalho da Polícia Federal. "É fundamental entender o caráter planejado e sistemático realizado pela PF para combater as narco milícias e demais facções criminosas do Rio de Janeiro", disse.
GLO visa a "asfixia logística e financeira do crime organizado". "Isso enfraquece, aí surgem as delações e prisões em série, que vão continuar e se ampliar."
O Gaeco do Rio de Janeiro informou que as investigações que levaram à prisão de Zinho "possibilitaram descortinar de forma cada vez mais profunda a estrutura e hierarquia da organização criminosa". "O preso é uma liderança que sempre teve uma especial preocupação em dissimular e ocultar seus esconderijos, inclusive, se valendo de formas de comunicação não rastreáveis, conforme exposto na denúncia oferecida pelo GAECO/MPJ."
Quem é Zinho?
O comando da maior milícia do Rio passou para as mãos de Zinho após morte de seu irmão Ecko. O miliciano foi baleado em uma operação policial em junho de 2021 — desde então, Zinho trava uma sangrenta disputa com outros grupos paramilitares, que tentam controlar a organização criminosa. Antes, ele era apontado como o responsável por gerenciar as finanças do grupo, segundo a Polícia Civil.
As investigações apontam que Zinho era hábil com contas. Antes de ascender à chefia do grupo, era ele quem contabilizava e lavava o dinheiro originado por atividades ilícitas, incluindo a venda clandestina de sinais de TV a cabo, de gás e de licenças para serviços de transporte.
Em setembro, Zinho foi um dos denunciados pelo Ministério Público pela morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e de um amigo dele. Jerominho teria sido morto após tentar retomar o comando da milícia, que foi fundada por ele. O grupo tem influência em 812 das 833 áreas listadas pela Polícia Civil com a presença de milícias.
Em outubro, a advogada de Zinho, Leonella Vieira, negou as acusações contra ele. Segundo ela, Zinho é vítima de "deduções" do Ministério Público, oriundas do parentesco dele com o ex-chefe da milícia, Ecko.
Sobrinho de Zinho foi morto no fim de outubro. Matheus da Silva Rezende, o Faustão, era número dois da organização (conhecida como "Família Braga" ou "Bonde do Zinho"), e morreu durante troca de tiros com a Polícia Civil em Santa Cruz, também no Rio. Rui Paulo Gonçalves Estevão, mais conhecido no mundo do crime como Profeta ou Pipito, ocupou o lugar de Faustão dentro da milícia. Ao menos 35 ônibus e um trem foram incendiados em represália à morte de Faustão.
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