Meio milhão em prêmio: como o agora repaginado VMB mudou o jogo para os capoeiristas

Meio milhão em prêmio: como o agora repaginado VMB mudou o jogo para os capoeiristas

Com meio milhão de reais já pagos em premiações, a maior organização de capoeira do mundo chega a 2025 reafirmando seu poder de fogo no cenário das lutas brasileiras. Em pouco mais de dois anos de existência, a VMB deixou de ser apenas uma promessa para se tornar referência em investimentos de alto valor, atraindo atletas consagrados e revelando novos talentos em uma velocidade impressionante. E, para coroar essa trajetória fora da curva, a entidade anuncia uma reformulação no nome, trocando Volta do Mundo – Bambas por Volta ao Mundo – Bambas, numa clara demonstração de proximidade ainda maior com a comunidade capoeirista global.

A história dessa ascensão meteórica remonta a agosto de 2022, quando a então VMB — inspirada pelo jargão “volta ao mundo”, utilizado pelos capoeiristas ao circular a roda — decidiu apostar em torneios profissionais, com regras definidas, sistema de ranqueamento e prêmios financeiros substanciais. À época, a capoeira sofria com a evasão de praticantes promissores, que enxergavam no MMA ou em outras modalidades perspectivas melhores de carreira. A criação de um ambiente competitivo sólido foi a solução para esse impasse: ao valorizar a arte-luta e remunerar os campeões, a organização trouxe de volta mestres experientes e atraiu jovens potenciais que antes migravam para o jiu-jítsu ou para o boxe.

Hoje, dois fenômenos explicam a força do VMB. O primeiro é o crescimento dos circuitos de ranqueamento. A entidade iniciou as disputas com poucos eventos, mas rapidamente passou a contar com dezenas de torneios, chegando a cem competições em âmbito mundial. O segundo impacto vem do boom de equipes de treinamento: existem mais de 300 grupos oficiais, espalhados por diversos países, cada qual com seu estilo, nome e metodologia. Mal comparando, são como “novas Gracie Barra” da capoeira, embora não carreguem uma marca padrão; cada agremiação mantém sua identidade cultural, mas segue as diretrizes e regulamentos estipulados pela VMB para garantir isonomia nas lutas.

A troca de Volta do Mundo para Volta ao Mundo é mais do que uma alteração de palavras. A ideia de “dar a volta” permanece carregada de simbolismo, mas agora ganha um sentido ainda mais inclusivo: reforçar que a capoeira se estende a todos os cantos, e que a organização e os capoeiristas formam um só corpo. Nesse espírito de coletividade, a palavra “Bambas” é mantida para enfatizar a habilidade e a ginga diferenciada dos grandes capoeiristas, elementos centrais da tradição dessa arte. Desde a sua concepção, a organização sempre defendeu que o esporte de alto nível poderia coexistir com os valores históricos da roda, provando que inovação e tradição andam de mãos dadas.

A estratégia financeira robusta consolida essa visão. Em outubro passado, um dos eventos mais marcantes ocorreu em Brasília, com card principal estrelado por Cezar Mutante e Sergio Moraes, ex-atletas do UFC. O vencedor levou para casa 100 mil reais, valor inédito na capoeira e incomum até em lutas de maior tradição no país. Em fevereiro de 2025, a mesma premiação estará em jogo em Santa Catarina, ratificando a proposta de trazer combates competitivos, recheados de técnica e arte, aliados a recompensas que podem mudar o patamar de vida de um atleta profissional.

O sucesso da organização não se limita aos grandes valores. A VMB já realizou confrontos em locais icônicos como o Pão de Açúcar e a Arena 1 do Parque Olímpico, ambos no Rio de Janeiro, além de passar por São Paulo e alcançar outros continentes, com disputas nos Estados Unidos e na Suécia. No retorno a Brasília, em outubro, a entidade registrou outro feito de peso: a transmissão ao vivo pela Com Brasil TV atingiu a marca de 15 milhões de espectadores, número que mostra o potencial gigantesco do evento para crescer ainda mais e rivalizar com torneios estabelecidos de MMA, boxe ou jiu-jítsu.

“O foco principal é profissionalizar a capoeira sem apagar sua essência histórica. Queremos que cada roda sirva de inspiração para que os atletas sonhem com o cinturão e a premiação, mas também mantenham viva a herança cultural que fez desse esporte uma referência mundial”, afirma Saverio Scarpati, diretor-executivo do VMB, destacando a missão da instituição. Já para Aritana Silva, diretor-técnico, a expansão fora do país é uma prova de que a ginga brasileira tem tudo para conquistar novos adeptos: “Acreditamos que a capoeira não tem fronteiras. Nosso objetivo é mostrar que ela pode alcançar um patamar de competitividade, visibilidade e organização similar a qualquer outra arte marcial reconhecida internacionalmente.”

Ao concentrar esforços em oferecer grandes bolsas, estrutura profissional e projeção midiática, o VMB — agora Volta ao Mundo – Bambas — revitaliza o caminho de muitos capoeiristas que viam suas carreiras estagnadas. O esporte deixou de ser apenas uma tradição folclórica para emergir como modalidade competitiva de ponta, preservando a herança afro-brasileira e ampliando a visibilidade dessa expressão cultural. Se o meio milhão de reais distribuído até agora é o cartão de visitas, a promessa de novas arenas lotadas e mais campeonatos milionários reforça que a capoeira caminha a passos largos para se firmar como uma das forças mais promissoras no universo das lutas. A roda continua girando, mas agora sob a luz dos holofotes e a expectativa de um futuro próspero para quem vive de esquivas, movimentos rítmicos e golpes precisos.

Por Jornal da República em 22/01/2025
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