Mensagens vazadas reforçam resistência de Bolsonaro a golpe 

Por Carlos Arouck 

Mensagens vazadas reforçam resistência de Bolsonaro a golpe 

Vazamentos recentes de mensagens trocadas entre militares aloprados revelaram uma realidade que contrasta com as narrativas predominantes: a oposição clara do ex-presidente Jair Bolsonaro a planos golpistas dentro das Forças Armadas. Longe de ser um incentivador dessas iniciativas, Bolsonaro mostrou-se reticente, sendo chamado de “frouxo” e “amarelão” por conspiradores insatisfeitos com sua postura.

Mensagens como “joga dentro das quatro linhas o caralho SIC” expressam o tom de frustração de grupos que, diante da resistência de Bolsonaro, chegaram a cogitar substituí-lo para levar adiante seus objetivos golpistas.

Essas revelações enfraquecem as acusações de que Bolsonaro seria o mentor intelectual ou líder de ações antidemocráticas. Em vez disso, consolidam a imagem de um presidente que, apesar das pressões internas, manteve-se fiel ao discurso de governar “dentro das quatro linhas da Constituição.”

Do ponto de vista legal, as mensagens vazadas não colocam Bolsonaro diretamente na organização de qualquer golpe. Até o momento, não há áudios ou documentos que o vinculem de forma direta às ações planejadas por alguns militares. Essa ausência de provas dificulta o avanço de uma denúncia sólida por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Sem elementos incriminatórios objetivos, as acusações contra Bolsonaro parecem cada vez mais fruto de narrativas políticas do que de um caso jurídico robusto. Analistas destacam que transformar essas mensagens em provas conclusivas seria uma manobra que desrespeita o devido processo legal.

Em meio a esse contexto, o ex-presidente Michel Temer fez reflexões sobre o atual ambiente de radicalização política. Durante evento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em São Paulo, Temer comparou os atos de 8 de janeiro às manifestações violentas contra a reforma da Previdência durante seu governo.

“Invadiram prédios agora em 8 de janeiro. Mas vocês se lembram que no meu governo, quando nós cuidávamos da reforma da Previdência, as centrais sindicais mandaram 1.600 ônibus lá, que incendiaram ministérios, tentaram invadir o Congresso, viraram carros, queimaram carros”, afirmou.

Temer destacou que, apesar da gravidade das ações, optou por não transformar o episódio em uma pauta política contínua. “Se o episódio é de ontem, ontem é passado. Eu não falo do passado, vou falar do futuro.”

Ao comentar as revelações sobre os planos golpistas, Temer minimizou a participação das Forças Armadas como instituições, afirmando que apenas “alguns militares” estiveram envolvidos. Ele também reforçou sua avaliação de que “não há clima para golpe no país.”

Enquanto o Judiciário segue “trabalhando”, uma parte da imprensa tem adotado narrativas que sugerem culpa antecipada de Bolsonaro. Essa postura reflete, segundo analistas, mais um desejo de revanche política do que um compromisso genuíno com a justiça.

Veículos da grande imprensa e parte do judiciário têm sido criticados por promover um clima de “justiçamento.” A diferença entre justiça e justiçamento é essencial: enquanto a justiça segue o devido processo legal, o justiçamento promove julgamentos precipitados, que corroem a confiança pública nas instituições democráticas e no próprio Estado de Direito.

Ao transformar investigações preliminares em verdades absolutas, a imprensa não apenas desinforma, mas também contribui para polarizar ainda mais a sociedade, criando um ambiente de desconfiança e de rejeição institucional.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrentou julgamentos precipitados durante a Operação Lava Jato, tem o dever moral de defender o devido processo legal, mesmo em casos envolvendo adversários políticos. Cristiano Zanin, advogado de Lula, é um exemplo de como o respeito às garantias jurídicas pode ser a diferença entre justiça e perseguição política.

Adotar uma postura firme em defesa da legalidade pode ajudar Lula a reduzir a polarização e a consolidar a credibilidade das instituições democráticas. Essa posição também reforçaria o compromisso do governo com os princípios constitucionais.

Os vazamentos de mensagens envolvendo militares demonstram a existência de conspirações preocupantes, mas não fornecem evidências concretas contra Jair Bolsonaro. Pelo contrário, reforçam sua resistência a ações golpistas, desmontando narrativas que o acusam de ser o mentor de tais planos.
O debate que se segue deve transcender culpas individuais e focar no fortalecimento das instituições democráticas. O exemplo de Michel Temer ao lidar com crises.

Se Lula adotar uma postura firme em defesa do processo legal, poderá ajudar a reverter a polarização e reforçar a credibilidade das instituições democráticas, algo que o Brasil tanto necessita.


Os vazamentos de mensagens dos militares revelam conspirações preocupantes, mas não incriminam Jair Bolsonaro até o momento. O debate, porém, vai além de culpas individuais: expõe as feridas de um país dividido e em constante litígio político.

O exemplo de Michel Temer ao lidar com crises anteriores, a postura do presidente Lula em favor da legalidade e o papel da imprensa como defensora da democracia devem servir de guia para evitar que o Brasil mergulhe ainda mais no caos da polarização. Justiça sim, justiçamento não.

Por Jornal da República em 27/11/2024
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