Mulher que recebeu rim de porco bate recorde de sobrevivência e renova esperança para transplantes

Mulher que recebeu rim de porco bate recorde de sobrevivência e renova esperança para transplantes

Após anos de hemodiálise, Towana Looney se tornou a primeira pessoa a sobreviver por tanto tempo com um rim de porco transplantado. Dois meses após a cirurgia, realizada pela equipe do NYU Langone Transplant Institute, nos Estados Unidos, ela se mantém saudável e otimista. O avanço traz novas perspectivas para milhares de pacientes que aguardam por um órgão compatível.

A operação ocorreu em novembro de 2024 e, desde então, Towana segue sem sinais de rejeição. Em entrevista à Associated Press, ela comemorou: "É uma nova visão da vida, sou uma supermulher". Antes dela, quatro pacientes passaram pelo mesmo procedimento, mas nenhum conseguiu ultrapassar os dois meses de sobrevivência. Looney já superou os 65 dias, tornando-se a primeira mulher viva com um rim de animal.

Uma trajetória de luta pela vida

A busca de Towana por um rim começou em 2017, mas sua história com a insuficiência renal vem de décadas. Em 1999, ela doou um rim para a mãe, que enfrentava a doença. Anos depois, durante a gravidez, desenvolveu o mesmo problema devido a complicações da pressão alta. Sem encontrar um doador compatível, precisou iniciar a hemodiálise em dezembro de 2016.

Durante anos, o tratamento a manteve dependente de máquinas por várias horas semanais. Agora, ela celebra sua recuperação e já consegue até mesmo superar familiares em longas caminhadas por Nova York, onde permanece até o fim do acompanhamento médico, previsto para fevereiro.

O médico Robert Montgomery, responsável pelo procedimento, afirmou que o quadro clínico de Looney inspira otimismo. Segundo ele, sua saúde antes do transplante foi um fator determinante para o sucesso do órgão animal, já que a paciente apresentava poucas complicações além da insuficiência renal.

Nos Estados Unidos, o transplante de órgãos de animais geneticamente modificados para humanos ainda é uma alternativa experimental. O FDA autoriza a prática apenas em casos onde não há outras opções disponíveis. No caso de Towana, a longa espera por um rim compatível poderia ter agravado ainda mais seu estado de saúde.

Apesar dos resultados positivos, os médicos ressaltam que ainda não é possível prever por quanto tempo o rim funcionará. Caso haja falha, Towana poderá voltar à hemodiálise. "A verdade é que não sabemos quais serão os próximos desafios, porque nunca chegamos tão longe", explicou Montgomery. "Nos resta acompanhar e aprender."

O avanço do xenotransplante

O procedimento realizado em Looney faz parte dos avanços do xenotransplante, técnica que envolve o transplante de órgãos entre espécies. No caso dela, o rim veio de um porco geneticamente modificado para minimizar a possibilidade de rejeição.

O órgão recebeu dez modificações genéticas, incluindo a remoção de três antígenos imunogênicos que poderiam causar resposta adversa do sistema imunológico humano. Também foi retirada uma estrutura associada ao hormônio de crescimento suíno, evitando que o rim ficasse desproporcional. Além disso, foram inseridos seis genes humanos para torná-lo mais compatível e reduzir a rejeição.

Nos últimos anos, o xenotransplante tem sido cada vez mais estudado como solução para a escassez de órgãos. Com milhares de pessoas na fila de espera, a técnica surge como alternativa para quem não encontra um doador compatível a tempo.

O desafio da fila de espera no Brasil

No Brasil, cerca de 41 mil pessoas aguardam um transplante de rim, tornando-o o órgão mais demandado no país. No total, 45 mil pacientes esperam por um transplante de qualquer tipo. O alto índice de doenças que afetam os rins, como diabetes e hipertensão, é um dos fatores que contribuem para essa realidade.

O país está entre os líderes mundiais em transplantes renais, mas a quantidade de pacientes na fila ainda é expressiva. A doação de órgãos continua sendo um dos principais desafios, uma vez que a legislação exige a autorização da família para a doação, mesmo que o indivíduo tenha manifestado desejo de doar em vida.

Nos últimos anos, medidas foram adotadas para facilitar esse processo, incluindo campanhas de conscientização e a possibilidade de declaração antecipada de doador. No entanto, especialistas reforçam que o aumento da doação voluntária é fundamental para reduzir a fila de espera e salvar vidas.

O caso de Towana Looney representa um avanço significativo na medicina, demonstrando o potencial dos xenotransplantes e renovando as esperanças de milhares de pacientes ao redor do mundo.

Fonte: G1

Por Gestão, Governança e Empreendedorismo em 03/02/2025
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