Na 'Frente Democrática para derrotar o bolsonarismo' de Boulos, cabe até bolsonaristas

Pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos e o senador Alexandre Giordano (MDB) Foto: Instagram @senadorgiordano

Na 'Frente Democrática para derrotar o bolsonarismo' de Boulos, cabe até bolsonaristas

A campanha do PSOL à prefeitura de São Paulo, com Guilherme Boulos à cabeça, vai cada vez mais à direita para se tornar aceitável para a burguesia da capital paulista. Isso se reflete em um programa e em um arco de alianças cada vez mais à direita.

Afirmando que seu objetivo é combater o bolsonarismo, que tem como representante na cidade o atual prefeito que busca a reeleição, Ricardo Nunes (MDB), Boulos tem defendido construir a frente mais ampla possível e coloca como critério político que ela se dê “em torno de valores democráticos e de combate às desigualdades sociais”.

Essa frente que propõe o candidato do PSOL é uma aliança com a burguesia para governar São Paulo a serviço dessa classe.

E acontece que nessa frente antibolsonarista “em torno de valores democráticos e de combate às desigualdades sociais” cabe, inclusive, aqueles que não defendem valores democráticos, nem combatem as desigualdades sociais, e até pessoas que não possuem nenhuma contradição com o bolsonarismo.

Recentemente, se deu publicidade ao fato de que o Senador Alexandre Giordano (MDB) já desde 2023 tem declarado apoio a Boulos e foi acolhido pelo psolista como aliado. Trata-se de um verdadeiro escândalo, já que Giordano é um empresário reacionário, ex-apoiador de Bolsonaro, que foi filiado ao antigo PSL que elegeu Bolsonaro e assumiu um mandato tampão, já que ocupava o posto de suplente de ex-senador Major Olimpio que faleceu em 2021, um dos principais representantes da chamada “bancada da bala” no estado de São Paulo.

Giordano, que é apadrinhado político de Temer, entrou apagado na disputa eleitoral e ficou conhecido com o escândalo em que foi acusado de usar o favorecimento político de Bolsonaro para negociar para suas empresas, com o governo paraguaio, o excedente da energia de Itaipu. Como empresário, o senador tem em seu histórico processos judiciais por não pagamento de imóveis, invasão de terreno e dívidas trabalhistas.

Não existe nenhuma contradição entre Giordano e o bolsonarismo. Até 2022 eram frequentes as postagens do Senador com o então presidente Bolsonaro e suas manifestações de apoio ao bolsonarismo como corrente política.

A aproximação de Boulos com Giordano é apenas mais um passo (o mais escandaloso deles até agora) no sentido da formação da frente de conciliação de classes idealizada por Boulos. Além do fato de que o leque de alianças de Boulos conta com partidos burgueses como Rede Sustentabilidade, PDT e PV, a indicação de Marta Suplicy (ex-MDB e recém-regressa ao PT) como vice de Boulos, indicação essa que partiu do próprio Lula, foi mais uma sinalização para a burguesia paulistana que poderiam confiar que Boulos não enfrentará seus negócios caso seja prefeito. Marta, para assumir o papel de vice na chapa com Boulos, teve que se demitir do cargo de secretária que ocupava na prefeitura de Ricardo Nunes, a quem acompanhou docilmente durante todos os últimos anos de aproximação com o bolsonarismo. Em 2017, a então senadora havia apoiado a Reforma Trabalhista de Temer que retirou direitos dos trabalhadores brasileiros e como prefeitura atacou direitos dos servidores públicos e do povo pobre da cidade.

Não se combate a ultradireita com conciliação de classes

O caminho de Boulos, de se propor a enfrentar a ultradireita em conciliação com a burguesia, não é nenhuma novidade. É o mesmo caminho que foi trilhado por Lula e o PT no Governo Federal. Após assumir o governo, Lula nomeou Múcio, um reconhecido defensor dos militares golpistas, como Ministro da Defesa e construiu uma aliança com Arthur Lira para reconduzir este à presidência da Câmara de Deputados mantendo o controle do Centrão bolsonarista sobre o Legislativo Federal.

A ultradireita não será derrotada com conciliação de classes. Ainda que seja possível derrotá-la eleitoralmente (que é muito importante) ela segue viva como fenômeno político com peso de massas, como demonstrou o recente ato de Bolsonaro (que não só perdeu a última eleição, como está inelegível até 2030).

A ultradireita será derrotada enfrentando as condições estruturais sobre as quais se apoia, as Forças Armadas reacionárias que servem a manutenção da ordem burguesa e que carregam desde a conciliação produzida durante a redemocratização um forte teor golpista e à própria classe social dos capitalistas que, em sua fase cada vez mais decadente, dá base a fenômenos autoritários como o do bolsonarismo.

A escolha de Lula para o Governo Federal e que Boulos está adotando para a sua candidatura, de fazer um governo em aliança com a burguesia e com antigos bolsonaristas, no máximo, aquietará o bolsonarismo temporariamente sem superá-lo politicamente.

Por Deyvis Barros, do PSTU Ceará (CE)

 

Por Jornal da República em 29/03/2024
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