Não queremos guerra, mas trabalharemos para garantir nossa segurança com todos os meios, diz Lavrov

Não queremos guerra, mas trabalharemos para garantir nossa segurança com todos os meios, diz Lavrov

Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, criticou a resposta de Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, às propostas do Kremlin de garantias de segurança nacional, as relações entre o Ocidente e Moscou e a questão da participação da Ucrânia na Aliança Atlântica.

Garantias de segurança
"O senhor Stoltenberg [...] faz constantemente afirmações pouco adequadas [sobre esses assuntos]", disse o diplomata em entrevista à RT na quarta-feira (22).

Ao mesmo tempo, Lavrov não crê que as propostas da Rússia estejam sendo "ignoradas".

"Ontem [21] o presidente [russo Vladimir] Putin [...] falando no conselho ampliado do Ministério da Defesa, mencionou que, durante a última conversa telefônica, mesmo na videoconferência, com o presidente [norte-americano Joe] Biden, eles falaram desse tema. O presidente Biden demonstrou estar disposto a olhar para as preocupações levantadas pelo lado russo", contou, acrescentando que a Rússia mostrou "sua visão dos acordos possíveis".

"No que toca à verdadeira reação, não à retórica [...] dos nossos colegas americanos, diria que é de trabalho. Foram realizadas várias discussões ao nível de assessores de política externa dos presidentes da Rússia e dos EUA, e agora em resultado de mais um contato basicamente foram acordadas as modalidades organizacionais do futuro trabalho [nessas questões]", continuou.

Lavrov indicou a data em que espera que Moscou realize negociações com a OTAN sobre as garantias de segurança.

"Planejamos em um futuro próximo, também queremos fazer isso em janeiro, ativar também a plataforma de negociação para a discussão do segundo documento, o projeto de acordo entre a Rússia e os países da OTAN", revelou o ministro das Relações Exteriores, mencionando uma terceira linha de preocupações que deverá fazer parte da discussão.

"Levantaremos também a questão das garantias de segurança na plataforma da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa", revelou o chanceler russo.

Sergei Lavrov também afirmou na entrevista que as negociações não poderão durar para sempre.

"Claro que muitos colocarão a pergunta 'e se?' Os americanos disseram que o nosso documento contém uma série de preocupações, eles querem discutir, uma série delas são inaceitáveis [...] Eles também têm suas preocupações. Estamos prontos para as estudar, mas eles ainda não as apresentaram. Em caso de entendimento da organização do assunto, o conteúdo [dos acordos] ainda enfrenta um trabalho enorme, claro. Mas como disse o presidente [Putin], ele não pode ser infinito", sublinhou o alto responsável.

 

O objetivo da Rússia é evitar a guerra, explicou.

"Nós não queremos guerra, o presidente Putin falou novamente sobre isso: não precisamos de conflitos, esperamos que a mais ninguém os conflitos surjam como um curso de ação desejado. Vamos garantir duramente nossa segurança com os meios que considerarmos necessários."

Disposição da Ucrânia

O ministro das Relações Exteriores da Rússia instou Berlim e Paris a exortar a Ucrânia a cumprir os Acordos de Minsk para implementação da paz dentro do país, em vez de usar a "cortina de fumaça" de uma "inexistente escalada" militar da Rússia perto de seu território. Ele disse ser necessário obter explicações sobre a função do armamento militar ocidental junto das fronteiras russas.

Segundo ele, a posição da Rússia sobre a implementação da paz local sob o Formato da Normandia, cujas discussões têm sido realizadas entre junho de 2014 e dezembro de 2019, está sendo distorcida.

"Do ponto de vista do cinismo saudável, me parece que são bem reveladoras as discussões [recém-publicadas por Moscou] de que se fala, e que refutam completamente as declarações dadas antes que revelamos as cartas, sobre a Rússia supostamente estar bloqueando o trabalho do 'Formato da Normandia'. Isso não é assim", e sugeriu estar preocupado com a França e a Alemanha "se colocarem 100% do lado do regime ucraniano".

O chanceler russo também se dirigiu diretamente às "cabeças quentes" da Ucrânia, que diz estarem alimentando "sentimentos agressivos" para provocar uma reação da Rússia e assim justificar um aumento do investimento militar da OTAN no território ucraniano.

"Ontem [21] Putin disse muito claramente no conselho do Ministério da Defesa: temos todas as capacidades necessárias para assegurar uma resposta adequada, incluindo técnico-militar, a quaisquer provocações que possam se desenrolar ao nosso redor."

 

Na sexta-feira (17) o Ministério das Relações Exteriores da Rússia publicou um projeto de acordo entre a Rússia, os EUA e a OTAN sobre as garantias de segurança mútuas, que já foi entregue a Washington e seus aliados. Uma das disposições inclui a garantia de não alargamento da Aliança Atlântica para leste de seus atuais Estados-membros.

Acordo nuclear iraniano

Durante a entrevista, o ministro das Relações Exteriores da Rússia também abordou as negociações do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) sobre o programa nuclear iraniano em Viena, Áustria, que foram interrompidas.

"Nós, junto com nossos amigos chineses e com algum entendimento dos participantes europeus, defendemos a sincronização desse movimento, para que haja um pacote de passos mútuos, e disso que estão tratando os negociadores em Viena. Eles querem um pequeno intervalo para o Natal católico, mas as negociações serão retomadas até o final do ano", relatou Lavrov.

 

Ele também mencionou que o Irã confirmou que, "se os EUA assumirem completamente o caminho do cumprimento de suas obrigações, deixarem de ameaçar com sanções, que são incompatíveis com o JCPOA e a resolução 2231 [da ONU], então o Irã também regressará ao cumprimento de suas obrigações, incluindo também a aplicação do protocolo adicional ao acordo com a AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica] sobre garantias abrangentes".

"Por isso, creio que temos uma boa chance", resumiu.

Por Jornal da República em 22/12/2021
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