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Há um ano acompanhávamos aflitos, e impotentes, o drama de nossos irmãos petropolitanos diante da força das chuvas que levou à maior tragédia da história daquele município. Daqui do lado, de Teresópolis, assim como em toda a nossa região e em todos os lugares onde o período das tempestades de verão virou sinônimo de medo e apreensão, além da solidariedade de quem já viveu de perto drama semelhante, acompanhar a estas tragédias, como acompanhamos agora em 2023 ao desastre no litoral norte de São Paulo, é reviver um roteiro trágico cujos atos são bem conhecidos,
Passada a comoção e os discursos gerados pela cobrança da ampla exposição da imprensa, o que se tem, geralmente, passado um certo tempo, salvo um ou outro legado, é a profunda contradição entre uma memória vívida de uma dor que não se apaga e surto de esquecimento que vem imediatamente após as chuvas cessarem e que faz com que outras “prioridades” suplantem as políticas necessárias para se evitar a repetição de novas tragédias.
É essa “amnésia do céu azul”, assim apelidada pelo professor Marcelo Motta, do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio, que dá sensação de que falta vontade política para que possamos começar a resolver o problema. E falta mesmo.
Cada vez que se tenta, por exemplo, impor aos orçamentos municipais recursos para ações preventivas e estes são, deliberadamente, realocados para outros fins, falta vontade. Toda vez que projetos de acadêmicos, estudiosos ou organizações não governamentais terminam em alguma gaveta empoeirada, falta vontade. Toda vez que chegam repasses vultuosos para ações de prevenção que não são gastos, falta vontade.
Pois quando chegamos a dizer que faltou vontade política é porque, na verdade, já faltou também empatia, responsabilidade, competência e, sobretudo, o senso de urgência que é preciso ter para começar a agir hoje, pois, no próximo verão, quando o céu se fechar e recordarmos que estamos todos em risco, será tarde, de novo.
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