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Por Pai Denisson D'Angiles, do Instituto CÉU ESTRELA GUIA - SP
Deus te abençoe
Vá com Deus
Minha Nossa Senhora
Ave Maria
Jesus lhe guarde e olhe por nós....
Em um país laico a bênção é livre desde que siga uma seita pré-determinada, preferencialmente cristã, branca e eurocêntrica. Será? No último dia 20 de julho, às vésperas da Olimpíada, o atacante Paulinho postou um clamor em suas redes sociais que deu luz a muitas discussões: “Exu ilumine o Brasil”, era o pedido de Paulinho.
“Deus acima de todos”, diria nosso atual presidente, o que não deixa de ser uma verdade, uma vez que, de acordo com o ONDH, as denúncias de casos relacionados à intolerância religiosa aumentaram 41,2% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.
E o que isso tem a ver com a declaração de Paulinho? TUDO.
Foi-se o tempo em que os cultos às religiões afro se limitavam às senzalas, que as mulheres conhecedoras de ervas eram queimadas, santa inquisição impunha o medo e morte a defesa e divulgação de qualquer religião "não crista". A crença popular no Brasil, ainda hoje, atribui a determinadas pessoas o poder de causar o mal, doenças ou até mesmo a morte a outras, e isto, da mesma forma que trouxe fama para os sacerdotes, mas também impulsiona atos de intolerância religiosa, ataques a templos religiosos, violência, discriminação entre outras ações que dia após dia tentam calar e calam nossa voz.
O posicionamento de Paulinho não só expõe sua fé e seu desejo de dias melhores a nossa nação, como também ilumina o fato de que não queremos ser tolerados, a Umbanda, o Candomblé, o Tambor de Mina ou qualquer outra religião, seja ela de matriz afro ou não, não deve ser TOLERADA, deve ser RESPEITADA. Professar sua fé, seja ela qual for, deve ser tão normal quanto é uma procissão de Nossa Sra. Aparecida em 12 de outubro, data essa católica e de feriado nacional.
Como sacerdote de Umbanda reitero que a liberdade de culto é apenas mais um exemplo de livre arbítrio tão importante na vida humana, de modo que aqueles que são firmes em suas crenças não devem ser desqualificados por aqueles que não as compartilham. Pelo contrário, esta pluralidade de pensamentos e convicções deve ser aplaudida, pois das diferenças nascem as condições ideais para abrir o caminho para um país melhor.
Que a força de Exu que corre pelos quatro elementos nos permita sempre movimentar, transformando as nossas vidas. Que não nos falte o verbo, coragem, mesmo diante das perseguições, mesmo que tentem apagar nossa crença.
“Que Exu lhe abra os caminhos. Laroyê Exu. Exu é Mojubá”
Por Babalaô Ivanir dos Santos Doutor em História Comparada pela UFRJ, conselheiro do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, e interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) há 12 anos. Há 40 anos, atua pelas liberdades dos direitos humanos. Em 2020, recebeu o prêmio Internacional Religious Freedom (IRF) do Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, durante evento em Washington.
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