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Ricardo Nêggo Tom
Em meio ao trágico conflito entre Israel e Palestina, nos deparamos com a questão religiosa pautando o posicionamento da maior parte dos ditos cristãos brasileiros que, movidos pelo dogma da fé na palavra de Deus veiculada através da Bíblia. Segundo o livro sagrado, Deus fez um pacto eterno com Abraão prometendo que Israel seria o seu povo escolhido para abençoar a todas as outras nações do mundo.
Para tanto, bastava que obedecessem aos seus mandamentos, que eram transmitidos pelas vozes de homens como Moisés, que alertou ao povo de Israel que a sua desobediência a Deus lhes custaria uma vida errante entre todos os outros povos da terra.
Como dona Florinda costumava dizer para o seu filho Kiko, o castigo para os israelitas seria ter que se misturar com a gentalha que habitava outras partes do mundo. Só que Moisés, mesmo sendo o profeta preferido de Deus, não estava com essa moral toda no meio do seu povo. Sua advertência não foi levada a sério e o povo de Israel acabou se dividindo em duas tribos. Uma ao norte, a Tribo de Israel, e a outra ao sul, chamada Tribo de Judá.
Saindo da Bíblia e entrando nos livros de história, encontramos milhares de anos depois da promessa que teria sido feita por Deus aos israelitas, mais precisamente em 14 de maio de 1948, a criação de um Estado de Israel bem diferente daquele que a Bíblia relata como a terra santa. Um Estado alicerçado sob uma ideologia sionista e abençoado por um novo deus.
Os EUA. Aliás, devido ao seu fascínio por guerras sangrentas que justificam a morte de milhares de inocentes para satisfazer os seus interesses e mostrar o seu poder superior, eu suspeito que os EUA já era o deus bíblico. Mas isso é apenas teoria conspiratória. Acontece que a nova terra prometida foi estabelecida dentro do território palestino, um fato que, segundo a Bíblia, não representaria nenhum empecilho para que a nova Israel tomasse todo esse território para si.
Como, por exemplo, no livro de Deuteronômio, capítulo 20, versículo 16, onde Deus recomenda que, “contudo, nas cidades das nações que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança, não deixem vivo nenhum ser que respire. “ E é o que parece que Netanyahu, o Abraão da nova Israel, pretende fazer com os palestinos
A má fé dos líderes e de políticos que representam o segmento evangélico neopentecostal brasileiro, é capaz de promover uma verdadeira campanha de apoio a Israel, fazendo com que os seus fiéis creiam que estão defendendo a terra prometida.
Como o senador Bolsonarista Jorge Seif, que durante a leitura do relatório da CPMI do 08 de janeiro, se apresentou como “servo de Jesus“ e acusou a relatora de estar ao lado da esquerda apoiadora do Hamas, ignorando a recomendação bíblica para que os cristãos estejam sempre ao lado da “nação santa do senhor“.
Uma declaração recheada de desinformação, desonestidade intelectual e burrice, algo característico dos parlamentares bolsonaristas, que desconhecem ou fingem não saber, que Jesus Cristo não é tido pelos judeus como o filho de Deus e salvador da humanidade, como os cristãos acreditam ser.
Aliás, foram os líderes religiosos judeus que o levaram à morte na cruz, incomodado com as suas pregações libertárias e humanizadas que escancararam a hipocrisia dos sumos sacerdotes do templo de Jerusalém, e aproximava os fiéis de uma fé menos dogmática e mais racional. O “quem não tem pecado que atire a primeira pedra“, é um exemplo do racionalismo de Cristo.
É sempre bom lembrar que não foram os “abortistas“, os beberrões, os homossexuais, os adoradores de outros deuses ou qualquer outro tipo de “pecador“, que gritaram para que Jesus Cristo fosse crucificado. Estes nunca se incomodaram com as pregações de Jesus, porque ele nunca os apontou como o mal a ser repreendido ou como aberrações que desagradam a Deus.
Como fazem muitos “cristãos“ que se consideram maiores do que aquele a quem chamam de mestre. Também é importante que os ensinamentos de Jesus deixem de ser de uso exclusivo de uma horda de oportunistas, que distorcem o evangelho em benefício próprio e semeiam o mal disfarçado de bem na nossa sociedade.
Para isso, é importante que os livros de história sejam utilizados em oposição a alguns livros da Bíblia e ajudem a elucidar o que havia por trás de tantas guerras e assassinatos de inocentes, produzidos sob a égide da vontade de Deus.
Assim, seria possível explicar o porquê de Jesus, mesmo sendo o Deus que se fez homem, como crêem os cristãos, nunca reivindicou para si poder e autoridade alguma enquanto esteve neste mundo e nunca usou de sua condição divina para usufruir de privilégios sobre os demais, como fizeram e ainda fazem líderes religiosos e políticos que se dizem ungidos por ele.
Enquanto isso, seguimos presenciando mais um genocídio histórico promovido pelos senhores da guerra e motivado por suas aspirações pelo poder, cujas regras não contemplam nenhum tipo de humanidade para atingir os seus espúrios objetivos. Embora haja inocentes morrendo de ambos os lados, um desses lados sempre esteve em desvantagem e sob opressão sistêmica.
Mesmo que a reação do Hamas tenha sido um ato de terror que pode não representar a totalidade da população palestina, o atual estado de Israel não tem nada de santo, nem de bíblico, e representa um terrorismo cuja prática costuma ser permitida ao Estado mais poderoso.
É natural que os palestinos desejem a morte daqueles que vêm destruindo a sua existência há décadas. Ou você desejaria vida longa para quem quer a sua morte? Malcolm X já nos alertara de que não se deve confundir a reação do oprimido com a violência do opressor. Israel, seja a bíblica ou o puxadinho dos interesses norte-americanos criado em 1948, sempre foi violenta e sanguinária.
E nunca foi por Deus. Sempre foi pela vontade dos homens. O deus de Israel não deveria estar sendo cultuado em outras civilizações, porque ele não representa a cultura universal. Ou vocês gostariam de estar vivenciando o que acontece nesse momento entre os eleitos deste deus?
Que comece o contorcionismo teológico para tentar desdizer o que está dito e retirar o que está posto diante dos olhos da história da humanidade. Religião é cultura e muitos deuses foram criados a partir da cultura de cada povo.
Deus me livre de receber a visita do deus que mandou Moisés ordenar uma chacina dentro do seu próprio acampamento, onde morreram mais de 3 mil pessoas, para punir o seu povo que havia adorado a outro deus enquanto ele esteve ausente, como relata a Bíblia em Êxodo 32. Imagina se eu quero contato com um deus que, para testar a fé de Abraão, pediu para que ele sacrificasse o próprio filho em oferecimento a ele. Alguém aqui mataria um filho por amor a um deus?
Que loucura seria seguir a um deus que institui em mandamento que é proibido matar, e depois me pede para que eu mate sem piedade, todos aqueles que ele considera desobedientes à sua vontade, sendo que este mesmo deus deu aos homens o livre arbítrio para agirem como quiserem.
Ex positis, a minha inveja dos ateus a cada dia aumenta mais. A sanidade mental deles é muito melhor do que a daqueles que foram criados sob dogmas religiosos. A propósito, alguém já viu ateus promovendo guerras e lutando pelo seu direito de anular a existência daqueles que não são ateus como eles? Talvez, eles sejam os verdadeiros filhos de Deus e não saibam. Fica para reflexão.
Aos cristãos brasileiros que estão a tomar partido numa guerra a qual eles não deveriam ter parte, e se posicionando contra os conterrâneos do Cristo que eles juram amar e servir, Deus lhes deixa um recado: Conhecereis um livro de história e ele vos libertará. Quem tem ouvidos, ouça. Quem ainda tiver cérebro, raciocina por si mesmo diante dos fatos. Amém!
Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247
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