Polícia Federal descobre manipulação de orçamento secreto com empresas fantasmas em eleições de 51 cidades do Ceará por deputado

Polícia Federal descobre manipulação de orçamento secreto com empresas fantasmas em eleições de 51 cidades do Ceará por deputado

  Uma investigação da Polícia Federal revelou indícios de que o deputado federal Júnior Mano (PSB-CE) teria desempenhado um papel central em um esquema de manipulação de eleições municipais no Ceará, envolvendo a compra de votos em 51 cidades e o desvio de recursos públicos de emendas parlamentares. O parlamentar nega as acusações, alegando ser vítima do uso indevido de seu nome.

Operações "Mercato Clausu" e "Vis Occulta"

A conclusão da investigação policial foi apresentada em 18 de dezembro, apontando Carlos Alberto Queiroz Pereira, conhecido como Bebeto do Choró, prefeito eleito de Choró (CE), como líder de uma organização criminosa. O esquema seria operado por meio de contratos fraudulentos entre prefeituras e empresas de fachada para lavagem de dinheiro e financiamento de campanhas eleitorais. Bebeto é atualmente foragido da Justiça.

Segundo o relatório policial, Júnior Mano também teria contribuído para o esquema, facilitando desvios de recursos provenientes de emendas parlamentares. Essas verbas eram utilizadas para compra de votos e consolidação de sua base política.

Desvios de Recursos por Meio de "Emendas Pix"

De acordo com dados do Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento (Siop), entre 2021 e 2024, 45% das emendas individuais do deputado foram realizadas na modalidade de transferências especiais, conhecidas como "emendas Pix", que não exigem apresentação de plano de trabalho prévio. Essa modalidade somou R$ 47 milhões de um total de R$ 104 milhões em emendas.

Denúncias de Compra de Votos

A prefeita de Canindé (CE), Maria do Rosário Ximenes, relatou ao Ministério Público Eleitoral que Bebeto dispunha de mais de R$ 58 milhões para compra de votos na região, utilizando recursos oriundos de emendas parlamentares. Em áudio apreendido pela PF, o candidato Robério Magalhães teria solicitado R$ 200 a Bebeto em troca de votos, o que foi comprovado por transferência bancária.

Foro Privilegiado e STF

Por ser parlamentar, Júnior Mano tem foro privilegiado, e o caso foi remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde está sob responsabilidade do ministro Gilmar Mendes. A Procuradoria-Geral da República foi acionada para se manifestar sobre o inquérito. Enquanto isso, os advogados de Júnior Mano solicitaram "sigilo absoluto" para o caso.

Próximos Passos e Impacto Político

A posse de Bebeto do Choró como prefeito de Choró está marcada para 1º de janeiro, mas sua ausência poderá levar o vice-prefeito a assumir temporariamente. No entanto, a chapa enfrenta um pedido de cassação pelo Ministério Público.

O caso lança luz sobre a fragilidade do controle de recursos públicos destinados a emendas parlamentares e reacende o debate sobre a transparência e rastreabilidade dessas verbas, intensificando a disputa entre o STF e o Congresso Nacional.

Defesa de Júnior Mano

Em nota à imprensa, Júnior Mano afirmou confiar nos poderes constituídos para comprovar sua inocência. Ele também declarou que as investigações contêm acusações infundadas e garantiu que colabora com a Justiça.

A investigação segue em curso, e os desdobramentos do caso prometem influenciar não apenas a esfera política local, mas também o debate nacional sobre mecanismos de combate à corrupção.

 

Fonte: Uol

Por Jornal da República em 29/12/2024
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