Assine nossa newsletter e fique por dentro de tudo que rola na sua região.
O ato de Bolsonaro na Paulista no dia 25 de fevereiro de 2024, em São Paulo, que reuniu cerca de 750 mil pessoas, segundo a Secretaria de Segurança Pública, ou 185 mil, segundo uma projeção da USP, foi uma demonstração de força da direita, que tem demonstrado uma capacidade de mobilização de massas, bem maior que a esquerda, o que até alguns anos atrás seria impossível pensar.
Mas por que a direita parece ter mais capacidade de mobilizar seus apoiadores do que a esquerda, que historicamente foi protagonista de grandes manifestações populares? Será que a esquerda perdeu seu encanto, não consegue mais mobilizar a sociedade para seus projetos, ou será que faltam esses projetos.
Para responder a essa questão, é preciso entender o que significa ser de direita ou de esquerda na política brasileira, e quais são as principais diferenças entre essas duas correntes de pensamento.
De forma geral, podemos dizer que a direita tem princípios mais conservadores e a esquerda, princípios mais revolucionários/reformistas.
A direita defende uma visão tradicional, que preza pelo bem-estar individual, o estado mínimo e o liberalismo econômico. A esquerda defende os direitos dos trabalhadores, o bem-estar coletivo e a igualdade entre os indivíduos.
No entanto, o espectro político brasileiro é mais complexo do que essa divisão simplista. Existem diversas nuances e variações dentro da direita e da esquerda, que vão desde a extrema direita até a extrema esquerda, passando pelo centro, pelo centro-direita e pelo centro-esquerda.
Além disso, o conceito de direita e esquerda não é estático, mas sim dinâmico e histórico. Ou seja, ele se modifica de acordo com o contexto social, econômico e cultural de cada época e de cada país.
O que era considerado de direita ou de esquerda há algumas décadas pode não ser mais hoje, e vice-versa. Por exemplo, o Partido dos Trabalhadores (PT), que surgiu como uma força de esquerda, foi acusado de adotar medidas de direita durante seus governos, como a reforma da previdência, as privatizações e a política de alianças com partidos conservadores.
A carta ao povo brasileiro de 2002, do PT e do Lula mostra uma inflexão à direita do PT, mostrando que nada é absoluto e universal. Principalmente os conceitos de esquerda e direita.
Dito isso, podemos analisar alguns fatores que podem explicar o maior poder de mobilização da direita em relação à esquerda. Esses fatores são:
? O Brasil ainda enfrenta uma grave crise econômica e social, que afeta principalmente os setores mais vulneráveis da população. A falta de emprego, renda, saúde, educação e segurança gera insatisfação, revolta e desesperança em muitos brasileiros. A direita se aproveita desse cenário para oferecer um discurso de mudança, de combate à corrupção, de defesa da família, da moral e dos valores cristãos, de apoio ao empreendedorismo e à meritocracia, de crítica ao sistema político e aos partidos tradicionais, de valorização da ordem e da autoridade, de rejeição ao comunismo e ao socialismo, de exaltação do nacionalismo e do patriotismo, de negação da ciência e da imprensa, de estímulo à violência e ao armamento, de desrespeito aos direitos humanos e às minorias. Esses são alguns dos elementos que compõem o ideário da direita, que encontra eco em uma parcela significativa da sociedade, que se sente representada e mobilizada por essas bandeiras .
? A influência das redes sociais e da mídia: outro fator que contribui para o maior poder de mobilização da direita é a influência das redes sociais e da mídia na formação da opinião pública. A direita sabe usar bem as redes sociais, para disseminar suas ideias, suas propostas, suas críticas e seus ataques aos adversários, de forma rápida, fácil e massiva. A direita também conta com o apoio de parte da mídia, especialmente de emissoras de rádio e televisão, de jornais e revistas, e de personalidades influentes, que reforçaram seu discurso e sua agenda, dando-lhe visibilidade e credibilidade. A esquerda, por sua vez, não conseguiu acompanhar o ritmo e a eficiência da direita na comunicação digital e na mídia, e ainda sofreu com a desinformação, as fake news, as calúnias e as difamações, que prejudicaram sua imagem e sua reputação perante a opinião pública .
? A fragmentação e o desgaste da esquerda: A esquerda brasileira é composta por vários partidos, movimentos, organizações e lideranças, que nem sempre se entendem, se articulam e se unem em torno de um projeto comum. A esquerda também sofreu com o desgaste provocado pelos escândalos de corrupção envolvendo alguns de seus principais representantes, como o presidente Lula e a ex-presidente Dilma, que foram alvo de processos judiciais, de impeachment e de prisão. A esquerda ainda enfrentou a resistência e a repressão de setores conservadores e autoritários da sociedade, que tentaram impedir ou criminalizar suas manifestações, suas reivindicações e suas conquistas.
? Por último, mas não mais importante, atribuo essa desmobilização à falta de um grande projeto de sociedade por parte da esquerda, principalmente a partir da queda do muro de Berlim. O fim da União Soviética, com seu socialismo real, gerou um vácuo de projetos antagônicos à sociedade capitalista que a esquerda critica e quer mudar.
Tudo isso enfraqueceu a capacidade da esquerda de mobilizar seus apoiadores e de atrair novos adeptos
Em suma, a direita hoje tem maior poder de mobilização do que a esquerda por uma conjunção de fatores, que envolvem a crise econômica e social, a influência das redes sociais e da mídia, a fragmentação e o desgaste da esquerda e principalmente por não ter mais um projeto de sociedade, que encante de novo corações e mentes da grande maioria do nosso povo.
Bom final de semana.
Filinto Branco - Colunista político
Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!