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Uma coisa é certa: a Copa do Mundo, um dos maiores eventos esportivos do planeta, tem uma mágica fabulosa que une pessoas de crenças, raças, cores, propósitos e até mesmo valores completamente distintos. Após vivenciarmos em nosso país um momento de intensa polarização política, vimos o resgate do espírito de equipe e todos os torcedores com um mesmo objetivo: não apenas disputarmos, mas concorremos à primeira posição na Copa do Qatar, rumo ao Hexa, que infelizmente não veio.
Como sabemos, a vida é feita de altos e baixos e isso pode ser aplicado não apenas no âmbito pessoal, mas também no profissional. E é comum serem supervalorizados apenas as conquistas e os pontos positivos, mas você já parou para pensar que os momentos turbulentos e desafiadores são os que, usualmente, mais nos trazem aprendizados? Crescemos em nossos lares escutando nossos pais dizendo que devemos ser sempre os melhores, mas, talvez, o mais correto seria você dar o máximo de sua capacidade, sem dar tanta importância se você será medalha de ouro, prata ou bronze. Se falamos tanto em colaboração e cocriação nos ambientes corporativos em busca da tão falada inovação, cada um, com suas competências, habilidades, forças e fraquezas tem algo a entregar para o resultado global da empresa.
Liderar não é uma tarefa fácil, nem simples, pois é preciso antes de qualquer questão, saber gerenciar a si mesmo e pelo profundo autoconhecimento, conhecer os pontos em que somos bons ou não, para somente depois podermos apoiar e caminhar ao lado de outras pessoas para serem melhores. Para quem já pegou avião, sabe que nos procedimentos de segurança os comissários de bordo orientam que, em caso de turbulência, máscaras cairão e o correto é colocar primeiro a sua para depois auxiliar outras pessoas. Assim é a vida real, só ajudamos o outro quando nos ajudamos primeiro.
Na última sexta-feira vimos o Brasil perder de goleada contra o time da Croácia, que nos tirou da Copa do Mundo. Já não bastasse perdermos a possibilidade de seguirmos no jogo, presenciamos nas televisões o líder de um time virar as costas aos seus liderados. Sim,em vez de Tite, técnico da Seleção Brasileira, atuar com a equipe no momento da derrota, ele optou por se retirar. Assim que acabou a partida, enquanto os jogadores se lamentavam, o técnico deixou o campo sem hesitar, não dando o acolhimento necessário ao seu time. Desde então, nas redes sociais, muitas pessoas têm se posicionado contra essa atitude que de fato foi lamentável.
Diante deste cenário, cabe-nos outra reflexão: será que Tite não saiu para se entregar ao choro da decepção por ter perdido esta Copa do Mundo? Será que ele não queria se afastar para não mostrar sua fragilidade aos seus liderados? Evidentemente todos esperam que o líder seja aquele que dá o direcionamento, que capacita, incentiva, critica e está sempre pronto a apoiar, mas em alguns momentos nos esquecemos que o líder também é um ser humano, falho por consequência.
Por outro lado, é esperado de alguém que ocupa o papel de liderança, autocontrole emocional, para que diante das adversidades, que são inevitáveis na vida, consigam não apenas passar pela turbulência com resiliência, mas também apoiar aqueles que estão ao seu redor. Mesmo chateado, era esperado que Tite se mantivesse ali. Que desabasse em choros com o time – esse é o espírito colaborativo, inclusive, regra básica do futebol: ninguém faz gol sozinho.
Ao contrário de Tite, a postura do técnico da Seleção Japonesa, eliminada pela Croácia nos pênaltis, foi observada e elogiada. Após a frustrante e dolorosa eliminação, ele foi até a torcida, agradeceu com o tradicional gesto japonês, voltou ao meio do campo, falou com o grupo que estava unido em um círculo e depois cumprimentou cada um dos jogadores com lágrimas e gratidão nos olhos. Essa é uma atitude minimamente esperada de uma liderança - não apenas no esporte, mas principalmente nas empresas. Ou seja, é preciso adotarmos uma convivência próxima, na alegria e na tristeza.
E nós diante disso tudo? Assumimos o papel de juiz muitas vezes, dando o veredito final. Somos ágeis em criticar o outro, mas também precisamos usar deste momento para olhar para nós mesmos, afinal quantos de nós não estamos também agindo como Tite, nas esferas profissional e pessoal, desistindo de nossos sonhos e de nossas metas? É preciso refletirmos se também não agimos de forma covarde com a gente mesmo, nos sabotando. Quantos de nós estamos com posturas inadequadas e posicionamentos polarizados, esquecendo que somos observados por líderes, pares, liderados e até mesmo clientes ou familiares?
Outra análise pertinente é considerar se essa postura inadequada de Tite, prevalece a tudo o que ele entregou até aqui. Quantos outros jogos por anos e anos ele se saiu bem como líder? Que possamos praticar a empatia como modelo de vida, sempre atentos ao que podemos melhorar primeiro como pessoas e depois como profissionais. E se falamos tanto em propósito e legado, que tal avaliarmos de que forma podemos fazer para apoiar o outro, quando ele falhar ou precisar de uma mão? Tal qual está na Bíblia, “que jogue a primeira pedra aquele que não tem nenhum pecado”. Que possamos sempre refletir sobre as opiniões que temos constantemente expressado e qual o impacto delas na vida de outras pessoas.
* David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search, empresa presente em 30 países via Agilium Group. É também Conselheiro de Administração pela Fundação Dom Cabral (FDC) e professor convidado pela mesma instituição. Ele é autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você” e atua, ainda, como conselheiro da ONG ChildFund, da ACMinas e da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH-MG). Instagram: @davidbraga | @prime.talent
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