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*Por Marcos Pedlowski
Acompanho as idas e vindas do Porto do Açu (Norte Fluminense) desde de antes de sua construção ter sido iniciada, e uma das minhas orientandas no Programa de Políticas Sociais da Uenf, Beatriz Oliveira Pires, realizou um dos primeiros estudos sobre as expectativas e temores gerados pelo empreendimento na população do 5º distrito de São João da Barra (RJ).
Nas muitas entrevistas que concedi quando jornalistas vinham cumprir pautas sobre o empreendimento iniciado pelo ex-bilionário Eike Batista, sempre disse que o Porto do Açu era mais espuma do que chopp, pois as muitas promessas e anúncios grandiosos feitos para angariar apoios acabavam não se cumprindo ou ficavam muito aquém do prometido.
Pois, neste domingo (14) o jornalista Lauro Jardim (O Globo) publicou em sua coluna dominical duas informações que podem alterar, mais uma vez, os rumos do Porto do Açu.
Segundo Jardim, o Porto do Açu está em vias de rolar uma dívida bilionária com dois dos seus credores (Bradesco e Santander), enquanto tratativas iniciais estariam sendo feitas com a petroleira estatal chinesa Sinopec para, digamos, passar o ponto.
Eu, particularmente, não me surpreendo com a informação, pois o montante de empréstimos tomados desde que o Porto do Açu começou a ser construído é gigantesco, enquanto o empreendimento tem parte de sua estrutura ociosa. Além disso, desde os tempos de Eike Batista, um dos sonhos dos controladores é ter a China como principal destino das mercadorias exportadas via o Porto do Açu. Daí para passar o porto para controle direto dos chineses é um pulo.
As diferentes tentativas de tornar o empreendimento em uma espécie de rodovia para a China estão descritas no capítulo que eu escrevi para o livro “The Tropical Silk Road: The Future of China in South America” que foi publicado pela Stanford University Press em 2022. Essa obra traz ainda outros casos de portos que estavam sendo ou foram adquiridos por empresas chinesas, o que demonstra que diferente dos EUA, os chineses preferem controlar portos do que instalar bases militares.
No caso do Porto do Açu, me preocupa o fato de que passada mais de uma década desde que o governo do Rio de Janeiro expropriou milhares de hectares que pertenciam centenas de propriedades de agricultores familiares (que até hoje esperam pelo devido ressarcimento financeiro), agora possamos ter esse estoque de terra (algo em torno de 7.500 ha) transferido para uma petroleira estatal chinesa, replicando o que ocorreu quando Eike Batista vendeu o Porto do Açu para o fundo de private equity EIG Global Partners.
É que com isso, a chance dos agricultores do 5º distrito serem finalmente ressarcidos vai diminuir ainda mais. Isto sem falar no aprofundamento da condição de enclave que já é uma das principais características do Porto do Açu.
Sobre o autor: Professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos-RJ; Bacharel e Mestre em Geografia pela UFRJ e PhD em “Environmental Design and Planning” pela Virginia Tech. Marcos Pedlowski escreve regularmente para o Portal VIU!
*Da Agência Fonte Exclusiva.
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