Prefeitura do Rio lança edital ambicioso de barcas na Barra sem combinar com a Iguá e especialistas questionam viabilidade sem despoluição

Projeto de barcas na Barra da Tijuca esbarra em desafio ambiental

Prefeitura do Rio lança edital ambicioso de barcas na Barra sem combinar com a Iguá e especialistas questionam viabilidade sem despoluição

A Prefeitura do Rio de Janeiro lançou nesta quarta-feira um audacioso projeto que promete revolucionar o transporte na Zona Oeste da cidade. O edital para a criação de um sistema de barcas no complexo lagunar da Barra da Tijuca surge como uma promessa de solução para os problemas de mobilidade urbana que há anos afligem a região. No entanto, o que deveria ser motivo de celebração, tornou-se alvo de questionamentos e preocupações por parte de especialistas e ambientalistas.

O projeto, que prevê a implementação do serviço em um prazo de três anos, propõe uma tarifa equivalente à dos ônibus, tornando-o acessível à população. Além disso, o plano inclui a construção de terminais em áreas estratégicas como Rio das Pedras e Gardênia, visando atender comunidades historicamente carentes de infraestrutura de transporte.

Contudo, o renomado jornalista e comentarista ambiental André Trigueiro levantou uma questão crucial que coloca em xeque a viabilidade do projeto: a qualidade das águas onde as embarcações irão navegar. "A prefeitura ligou para Iguá para saber se as lagoas estarão despoluídas até lá?", indagou Trigueiro, referindo-se à empresa responsável pelo saneamento na região.

A pergunta do especialista toca em um ponto nevrálgico do planejamento urbano carioca. As lagoas da Barra da Tijuca, conhecidas por sua beleza natural, enfrentam há décadas problemas crônicos de poluição, resultado do crescimento desordenado e da falta de investimentos em saneamento básico.

A Iguá, concessionária que assumiu recentemente o compromisso de despoluir as lagoas, tem pela frente um desafio hercúleo. O estado atual desses corpos d'água é alarmante, com altos índices de contaminação por esgoto doméstico e industrial, além da presença de lixo flutuante e sedimentos tóxicos.

Especialistas em meio ambiente alertam que a implementação de um sistema de transporte aquaviário sem a prévia recuperação ambiental das lagoas pode não apenas ser inviável do ponto de vista operacional, mas também representar riscos à saúde pública e ao ecossistema local.

"É louvável a iniciativa da prefeitura em buscar soluções alternativas para o transporte, mas não podemos colocar o carro na frente dos bois, ou neste caso, as barcas na frente da despoluição", afirma a Roberto Monteiro, especializada no ecossistemas lagunares da Barra.

A prefeitura, por sua vez, defende o projeto argumentando que o prazo de três anos é suficiente para que avanços significativos sejam feitos na qualidade das águas. Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes afirmou que "o projeto das barcas e o processo de despoluição das lagoas caminharão em paralelo, garantindo que, ao início das operações, as condições ambientais sejam adequadas".

No entanto, ambientalistas e moradores da região permanecem céticos. "Já vimos muitas promessas de despoluição ao longo dos anos, e a situação só piorou", lamenta Carlos Oliveira, presidente da Associação de Moradores da Barra da Tijuca. "Queremos acreditar, mas precisamos ver ações concretas antes de comemorar".

O caso das barcas na Barra da Tijuca ilustra um dilema recorrente no desenvolvimento urbano: como conciliar projetos de infraestrutura com a preservação e recuperação ambiental. A implementação bem-sucedida desse sistema de transporte poderia, de fato, trazer benefícios significativos para a mobilidade na Zona Oeste, reduzindo o tráfego nas vias terrestres e oferecendo uma alternativa mais sustentável de locomoção.

Contudo, sem um plano robusto e transparente de despoluição das lagoas, o projeto corre o risco de se tornar mais uma promessa não cumprida, ou pior, um investimento público fadado ao fracasso devido à negligência com as questões ambientais.

À medida que o debate se intensifica, fica claro que o sucesso deste empreendimento dependerá não apenas da vontade política e dos investimentos em infraestrutura, mas também de um compromisso sério e efetivo com a recuperação ambiental do sistema lagunar da Barra da Tijuca. Só assim, as barcas poderão deixar de ser uma "fake news" e se tornar uma realidade transformadora para a mobilidade urbana do Rio de Janeiro.

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Por Jornal da República em 30/09/2024
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