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US$ 5 trilhões o valor do aumento na riqueza dos maiores bilionários do mundo no ano passado, segundo a Forbes. Enquanto os mais pobres ficam mais pobres, os mais ricos tendem a ficar mais ricos. A situação representa os dois lados da mesma moeda e parece relembrar uma música antiga: "O de cima sobe, e o de baixo desce".
Uma das coisas que mais escutamos é a mentira de que “uma pessoa só não é rica porque não quer”. A chamada meritocracia, de que com esforço e vontade qualquer um pode se tornar um milionário. Mas, a verdade é que, quem fica propagando essas frases, pode estar é espalhando fake news.
Pesquisadores da Universidade de Catania (Espanha) desenvolveram um modelo matemático para comprovar a relação entre talento, esforço e riqueza. Um algoritmo de aproximação ao “mundo real”, leva em conta o histórico das regiões (por exemplo, as famílias mais ricas da Itália hoje são as mesmas que já eram as famílias mais ricas da Itália em 1400) e todos esses fatores de talento (medido por capacidade intelectual) e esforço (medido por horas de trabalho).
Além disso, sorte ou azar na vida são levados em conta durante um período de 40 anos (o tempo médio mundial que uma pessoa se mantém no mercado de trabalho), para ver quais desses indivíduos terminavam com maior acúmulo de capital. Por fim, o experimento é repetido por cem vezes a fim de garantir maior solidez dos resultados.
Gráfico obtido pelo experimento mostra que não há relação entre talento e sucesso financeiro.
O resultado é que, em todos os experimentos, não foi encontrada nenhuma relação entre talento, esforço e sucesso financeiro. Em todas as simulações feitas, as pessoas mais talentosas normalmente terminavam entre as com menos capital acumulado.
A mesma falta de relação também existia quanto ao esforço, e aqueles que acumularam o maior capital não necessariamente foram os que trabalharam durante um maior número de horas.
Na verdade, a única relação encontrada foi que, em praticamente todos os casos, a pessoa com maior acúmulo de capital foi a que teve contato com mais eventos de sorte durante sua vida - ou seja, o sucesso financeiro foi alcançado muito mais por motivos que não dependiam de seu próprio talento ou esforço, o que contradiz todo o discurso da meritocracia.
A desigualdade social no Brasil, marcada pela distribuição desigual de renda, é evidente. Basta uma simples observação sobre a sociedade em que vivemos:
1. Favelização
O cenário habitacional é um forte indício da condição de desigualdade. O aglomerado de casas, em grande parte construídas nos morros, contrasta com as mansões e as casas em condomínios fechados. Muitas vezes localizam-se muito próximas umas às outras, o que torna o contraste ainda mais chocante.
As favelas não passam por qualquer tipo de planejamento e as casas tendem a aumentar à medida que as famílias crescem.
Por outro lado, isso não acontece com as casas nobres, as quais são cuidadosamente projetadas.
2. Desigualdade alimentar
A fome é uma realidade para milhares de pessoas no Brasil (cerca de 7 milhões). Além disso, existem, ainda, mais de 40 milhões de pessoas que não comem a quantidade mínima necessária para uma alimentação adequada, apresentando, por isso, problemas de nutrição. Muitos passam fome, decorrendo daí quadros de desnutrição e muitos casos de mortalidade infantil.
Acresce que a prioridade na hora de comprar os alimentos é dada aqueles que sustentam mais, embora nem sempre sejam os mais saudáveis. Por outro lado, existe uma fatia da sociedade cuja quantidade e, especialmente, a qualidade dos alimentos, é garantida diariamente.
3. Falta de saneamento básico
A realidade da falta de esgoto sanitário, do tratamento de distribuição de água, entre outros, infelizmente ainda faz parte do cotidiano de milhares de brasileiros.
Sujeitas a uma série de doenças, a falta de saneamento básico pode levar pessoas à morte. Esse é um problema presente nas periferias e mais evidente na região norte do Brasil, mas que passa ao lado da classe alta brasileira, em cujos locais habitados e frequentados estão garantidos o tratamento dos esgotos e a coleta do lixo.
4. Ensino de baixa qualidade
O acesso às escolas públicas é usufruído pelos que têm menos possibilidades. Isso porque quem pode dispensa o ensino oferecido pelo Estado, cuja condições são muitas vezes precárias, e investe nas escolas pagas.
A diferença é marcada pelos salários dos professores, muito superior na rede particular, o que se traduz no incentivo para dar aula. Além disso, a infraestrutura e os materiais disponibilizados nas escolas privadas reforçam as diferenças entre ambas as situações.
Além da diferença na qualidade do ensino, quem tem mais poder aquisitivo pode completar a educação acadêmica aderindo a cursos, muitas vezes de valor elevado.
Os cursos de aperfeiçoamento, bem como as experiências no exterior, são práticas comuns entre os mais favorecidos socialmente. Dos intercâmbios, eles também levam a oportunidade aprender uma segunda língua. Melhor preparados, os mais favorecidos ultrapassam o nível dos que têm menos oportunidades, o que é mais uma prova de desigualdade social.
6. Desemprego
Depois de usufruir de um ensino melhor, os candidatos mais qualificados também podem aproveitar um leque de oportunidades de trabalho mais abrangente. Apesar de não ser garantia para conseguir uma vaga no mercado de trabalho, quando não há muitas vagas, o diferencial é o fator de desempate.
Além das possibilidades aumentarem, é possível que o valor das remunerações para os mais qualificados também seja superior. Enquanto isso, os menos qualificados fazem “bicos” para conseguir arcar com as despesas diárias.
7. Precariedade na saúde pública
Os mais pobres recorrem aos hospitais públicos, deparando com a falta de profissionais e outros. A carência financeira pode ser tão grande que a falta de materiais e de medicamentos se torna uma realidade para as pessoas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Enquanto isso, os mais ricos recorrem aos hospitais privados ou clínicas. Neles a gestão de recursos geralmente é mais eficaz e há tecnologia para assistir a necessidade dos seus pacientes.
8. Precariedade no transporte público
Os meios de transporte também fazem a diferença na vida das pessoas com mais ou menos renda. A alternativa dos mais carenciados é a utilização de transporte coletivo, muitas vezes, superlotado. Na maior parte do Brasil esse é um serviço ineficiente, principalmente porque não garante acesso a toda a população.
Os mais favorecidos recorrem ao seu próprio meio de transporte. Apesar do estresse do trânsito, eles podem planejar de forma mais independente os seus horários e percursos. Garantem também o benefício de poder transportar suas coisas e ir sempre sentado, entre outros.
9. Falta de acesso à cultura
A população mais favorecida tem mais oportunidade para usufruir de uma variedade alargada de atividades. São exemplos viagens, concertos e visitas a museus e exposições.
Esses acessos, infelizmente, são restringidos a uma grande parte da população brasileira. Isso porque certas atividades têm um grande peso no orçamento de uma família e, assim, entram na lista das prioridades menores, que acabam não sendo usufruídas.
Acontece que essas atividades aumentam a qualidade de vida das pessoas, além de que alarga o seu nível cultural.
Da Redação/Ralph Lichotti/Atlas/Ipea/Imagem: Internet
Fonte: Talent vs Luck: the role of randomness in success and failure
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