Racismo no Brasil persiste e presença negra na política precisa aumentar, dizem especialistas

Racismo no Brasil persiste e presença negra na política precisa aumentar, dizem especialistas

Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial é comemorado anualmente desde 2010. A data lembra o Massacre de Sharpeville, incidente ocorrido em 21 de março de 1960, quando 69 pessoas foram assassinadas pela polícia do Apartheid, em Joanesburgo, na África do Sul, enquanto protestavam contra políticas de segregação racial no país.

Quase 30 anos após o fim do regime do Apartheid sul-africano, o racismo ainda persiste em diversas sociedades ao redor do mundo. Em 2020, após o assassinato de George Floyd pela polícia nos Estados Unidos, protestos antirracistas liderados pelo movimento Black Lives Matter se espalharam por diversos países, incluindo o Brasil, gerando ampla comoção em torno do tema.

Em fevereiro, no Brasil, a polícia civil do Rio de Janeiro prendeu três homens acusados pelo assassinato do imigrante congolês Moïse Kabamgabe, espancado até a morte na região da Barra da Tijuca. O assassinato do refugiado também gerou ondas de manifestações antirracistas pelo país.

Apesar da disseminação dos protestos, a professora Dani Balbi, ativista antirracista e doutora em Ciência da Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que as mudanças são limitadas no caso do Brasil, onde o racismo ainda persiste como herança do regime escravista.

"As mudanças são significativas, mas apresentar o enegrecimento da propaganda, do mundo corporativo e até algumas medidas importantes como o incentivo à participação de pessoas negras na política, tem que vir articulado de uma reforma de fundo", afirma Balbi à Sputnik Brasil.

 

A pesquisadora acredita que o racismo continua sendo um tema central na política internacional e aponta que as dificuldades que refugiados não-brancos — como africanos, árabes e indianos — enfrentam para deixar a Ucrânia em meio ao conflito no país são exemplo dessa situação.

"Acho que isso que a gente assistiu é a expressão máxima de um racismo que é resultado desse processo de colonização de populações que foram racializadas de forma pejorativa, no caso as populações africanas e asiáticas. Essa imagem, esse fato me acende uma preocupação porque meu medo é que os conflitos políticos comecem a se resolver a partir de uma justificativa falaciosa que retoma a centralidade da supremacia racial", aponta a professora.

Presença negra no Congresso precisa aumentar
Já a técnica administrativa Ivanilda Oliveira Silva, membro da Comissão de Negritude do PSOL e da Resistência Feminista, reconhece a importância de movimentos como o Black Live Matters, mas salienta que apesar desse tipo de protesto a situação no Brasil não mudou.

"É claro que isso impacta, sim, no Brasil, mas não muda nossa realidade. Não mudou em nada a nossa realidade. A prova é o número de negros e negras que continuam sendo assassinados", afirma Silva à Sputnik Brasil, que ressalta também o impacto da fome e do desemprego sobre a população negra.

A integrante da Comissão de Negritude do PSOL acredita que os graves problemas de desigualdade social no Brasil devem manter a discussão do racismo na pauta eleitoral. Para ela, houve mudanças importantes já nas eleições de 2018 no Congresso Nacional com o aumento do número de congressistas negros em Brasília e esse avanço deve continuar.

Segundo números do site da Câmara dos Deputados, o número de deputados negros aumentou 5% em relação à eleição de 2014, formando uma bancada de 125 congressistas de diversos partidos e visões políticas. A eleição de 2018 também levou a primeira mulher indígena à Câmara, a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR).

A atual legislatura da Câmara dos Deputados tem 75% de congressistas brancos — 410 deputados. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Brasil tem 54,9% de negros na população e 44,2% de brancos.

"Essas mudanças são muito lentas e acontecem de forma muito gradual, mas tivemos mudanças. Por exemplo, nas últimas eleições conseguimos colocar parlamentares negros e negras, LGBTQIA+, mulheres. Então, isso significa uma mudança no Parlamento que não tínhamos até então, mas está muito longe de atender às nossas necessidades", aponta, acrescentando que há casos de pressão e ameaças contra deputados negros.

Por Jornal da República em 22/03/2022
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