Reforma ministerial com Centrão na Casa Civil é coroação do casamento com militares

Isolado, Bolsonaro confirma reforma, vai recriar Ministério do Trabalho e Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, vai assumir a Casa Civil

Reforma ministerial com Centrão na Casa Civil é coroação do casamento com militares

DA REDAÇÃO - É a volta dos que não foram. O presidente Jair Bolsonaro confirmou na manhã desta quarta-feira, 21, que fará uma reforma ministerial na próxima segunda-feira (26). Foi durante uma entrevista à rádio Jovem Pan de Itapetininga e o Centrão será o principal contemplado.

Ciro Nogueira (PP-PI) confirmou para caciques do Centrão e integrantes de seu partido que aceitou o convite para assumir a Casa Civil, de acordo com a colunista do jornal O Globo, Bela Megale.

Impossível não lembrar o vídeo em que o general Heleno, Chefe do Gabinete Institucional (GSI), imortalizou o verso “se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão” em convenção do PSL durante campanha de 2018. Três anos depois militares e Centrão são ‘unha e carne’ e principais alicerces do governo do Presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). A ‘mini pequena reforma ministerial’ sacramenta o casamento envergonhado. Ou seria apenas mais um ‘casamento hétero’? “Estamos trabalhando, inclusive, uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, declarou Bolsonaro.

Com a eminente ida de Ciro Nogueira (PP-PI) para o posto mais importante da República depois da presidência, o Centrão, como uma sucuri, conclui seu enlace do governo.

Mas o presidente vê motivos mais nobres para a sua escolha e, mais uma vez, se queixou de sua função: “Temos uma enorme responsabilidade, sabia que o trabalho não ia ser fácil, mas realmente é muito difícil. Não recomendo essa cadeira para os meus amigos".

Bolsonaro foi deputado federal entre 1990 e 2018 (28 anos). Dessas quase três décadas 12 anos foi como parlamentar do PP, principal expoente do Centrão e isso por si só deveria questionar o discurso da ‘nova política’ que ajudou a eleger o tenente reformado como capitão do exército. Principalmente se somado aos militares.

Além de melhorar a articulação no Senado, em meio à CPI a Covid e com dificuldades na indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF), a mudança serviria para aplacar uma insatisfação pessoal do próprio Ciro.

Pré-candidato ao governo do Piauí, o senador ficou irritado com o fato de o governo do Piauí, comandado por seu adversário político Wellington Dias (PT), ter anunciado na semana passada que o Ministério da Economia autorizou uma operação de crédito por meio do Banco do Brasil de R$ 800 milhões para o estado. Procurado, Ciro negou que tenha ficado insatisfeito com o episódio.

Ciro Nogueira também é um dos principais envolvidos no esquema do “Tratoraço”, que bancou a compra de maquinário superfaturado em até 259% e faz parte do “Orçamento Secreto.”

Caso a nomeação de Ciro seja confirmada, será o primeiro senador a ocupar um ministério no governo Bolsonaro. A Casa Civil é responsável pela coordenação entre os ministérios e pela nomeação dos principais cargos no governo.

Insatisfeito com o desempenho do governo na CPI e a articulação política, Bolsonaro comunicou a Ramos, em conversa no Planalto na terça-feira, que precisaria do cargo. No mesmo dia, o presidente conversou com Ciro, um dos líderes do Centrão, para assumir o posto. Uma reunião nesta quarta-feira no Palácio do Planalto pode sacramentar o novo desenho do governo.

O fortalecimento do PP, por outro lado, pode desagradar o MDB, partido com força no Senado e com influência tanto na CPI da Covid quanto no processo de indicação de Mendonça ao STF.

Três anos depois, em audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, Heleno, no entanto, chamou de “brincadeira” as declarações de 2018 e afirmou que o bloco não existe mais. “Sobre Centrão, aquela brincadeira que eu fiz foi numa convenção do PSL na campanha eleitoral. Naquela época existia à disposição na mídia várias críticas ao Centrão. Não quer dizer que hoje exista Centrão. Isso foi muito modificado ao longo do tempo E eu não tenho hoje essa opinião”, disse para em seguida emendar.

“E não reconheço hoje a existência desse Centrão. Então, naquela época… É uma situação de evolução de opinião. Faz parte da vida do ser humano”.

Como se vê, a Terra plana além de capotar, desliza.

Por Jornal da República em 21/07/2021
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