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Alguns dizem que as próximas eleições brasileiras serão marcadas pelo estigma da recuperação econômica, outros falam que elas serão dominadas pelas questões de justiça e cidadania. Entretanto, existem aqueles mais esclarecidos e esperançosos que acreditamos na emergência de um fator contagioso e de maior impacto no resultado dessas eleições.
Tal fator se refere a uma condicionante moral cada vez mais rara na escolha de candidatos eleitorais, uma qualidade virtuosa que resiste, latente, no imaginário dos eleitores, a reputação.
A reputação dos políticos não vem sendo levada à sério há décadas, motivo pelo qual temos tantos parlamentares que são alvo constante de rumores e de reportagens comprometedoras. Inclusive, mesmo existindo mecanismos legais para isso, tem sido muito difícil punir e excluir essas pessoas da vida pública, porque ficam protegidas pelo corporativismo insano da classe.
No Brasil, ter má fama ou a reputação degradada não é uma coisa tão ruim assim para qualquer um, principalmente se a pessoa alcançar o status de celebridade política.
Curiosamente, muitos políticos são lembrados e chamados para compor projetos e programas de governo por causa das suas debilidades manipuláveis, e não pelas excelsas virtudes.
Tem muitos deles desempenhando por aí no parlamento e no executivo, envergonhando-nos. Isto vem a ser uma ocorrência muito estranha, uma vez que um gerente de banco, um militar, um religioso, um professor, por exemplo, jamais poderiam ter uma má reputação. Ultimamente, ficamos propensos a acreditar também que até mesmo os juízes podem ter má reputação impunemente.
Os verdadeiros políticos estão em extinção, aqueles plenos de valores elevados, virtudes e sabedoria. A imagem do parlamento brasileiro é péssima há décadas. A população clama o tempo todo, em vão, pela melhoria técnica e moral dos candidatos aos cargos eletivos.
Contudo, a prática política vigente favorece o surgimento e a perpetuação de políticos desonestos.
Pensando na desgraça brasileira pela outra vertente, encontramos também uma alta Justiça que se tornou escandalosamente ineficiente e dominada por interesses pessoais, partidários e ideológicos.
Parlamentares e magistrados são habitué nas manchetes por seus excessos. É obvia a necessidade de se fazer algo eficaz pelo futuro do nosso país, sufragando candidatos decentes, que mais tarde poderão influenciar decisivamente na escolha de juízes de última instância mais probos e respeitados.
Infelizmente, tem sido muito difícil encontrar políticos e candidatos de reputação ilibada, pessoas comprovadamente honestas, verdadeiramente interessadas no bem comum, e dispostas a trabalhar em prol da evolução da sociedade.
É impressionante como temos feito escolhas repetidamente erradas nas últimas eleições, por décadas. Lendo escritos do pensador em gestão Dee Hock Ward, tornam-se claras as nossas opções eleitorais equivocadas.
A título de lembrança, trazemos aqui uma adaptação de seus escritos que se encaixam bem nos critérios que deveríamos adotar: “Vote primeiro com base na integridade; segundo, na motivação; terceiro, na capacidade; quarto, na compreensão; quinto, no conhecimento; e, por último, como fator menos importante, na experiência.
Sem integridade, a motivação é perigosa; sem motivação, a capacidade é impotente; sem capacidade, a compreensão é limitada; sem compreensão, o conhecimento é insignificante; sem conhecimento, a experiência é cega. Uma pessoa com todas as outras qualidades, adquire facilmente e coloca rapidamente em prática a experiência”.
Quem são realmente essas criaturas vazias, mas escondidas dentro de um produto eleitoral, e que sempre vencem as eleições? Como desnudá-la diante da sociedade? Como tornar visíveis autênticos líderes brasileiros, ainda desconhecidos, gente capacitada e sem manchas no histórico, pessoas brilhantes acostumadas a exemplificar suas condutas retas, cidadãos que não têm medo de mostrar o seu interior?
Chega de personalismos autoritários, eivados de condutas equivocadas, anões morais habituados ao jargão do “eu digo o que eu quero e você tem que acreditar em mim”.
Não é assim que funciona mais. Hoje é preciso ouvir bem direitinho os desejos justos dos cidadãos, o que a sociedade precisa e espera dos seus parlamentares, para que todos entendam a forma como eles praticam a política, de cara limpa.
Não basta o discurso, queremos que essas pessoas nos mostrem o que realmente estão desejando fazer, qual a sua atitude diante dos problemas, e que eles consigam provar o que estão dizendo, principalmente a respeito deles mesmos.
Sói acontecer nos momentos de grande sofrimento a aparição de gente com virtudes raras, como a reputação. Ainda assim, é necessário ressignificar a nossa escala de valores privilegiando a própria convicção, a consciência. Dificilmente amamos as virtudes por elas mesmas.
Precisamos compreender o que pode ser feito com elas, e o que as pessoas aprendem com isso, transformando seus atos em reputação.
Neste mundo de aparências políticas, insólitas, a reputação é um dos ativos individuais e coletivos mais importantes, mesmo porque ela é passível de verificação cuidadosa, expondo, claramente, uma preocupação ética, o triunfo do princípio sobre a conveniência.
A falta de honestidade de políticos, gestores públicos, juízes, etc, é um tema candente. No entanto, é preciso reconhecer que há também profissionais bons, competentes e dedicados ao serviço público, e também às representações políticas - em todas as partes, inclusive partidos e Poderes.
Entretanto, pensando nos descendentes, que herdarão nossos erros e acertos, defendo a realização de uma cruzada nacional em busca de cidadãos honestos, capacitados a administrar, com sabedoria, os negócios do Estado, lideres natos com potencial de alavancar o desempenho governamental.
Mais gestão, sentimentos nobres, e menos política e insensatez. Estamos precisando muito disso, agora. Se a gente vê, as outras pessoas deveriam ver também. (Dez 2021)
O autor, Doutor em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro (1990) e Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003), ex-Assessor Especial da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2019), e ex-Diretor do Departamento de Defesa e Segurança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP (até 2020).
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