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Como a Agricultura Transformou o Norte e Noroeste do Rio em Quase Deserto - Parte 2
De grão em grão, o deserto se fez: a saga do Norte e Noroeste Fluminense
Em terras onde o café reinava, hoje se espreita o fantasma da desertificação. A Região Noroeste Fluminense, outrora coberta pela exuberante Mata Atlântica, hoje dá sinais de que, de fato, "quem tudo quer, tudo perde". A ocupação e exploração desenfreada por café, cana-de-açúcar e gado leiteiro deixaram mais do que saudades: deixaram um legado de degradação.
Quem diria que a região, famosa pelo "ouro verde" do café, viria a enfrentar um futuro onde chuvas são como visitas de cometa: raras e imprevisíveis? Entre secas severas e chuvas torrenciais, a terra sofre, e a erosão faz a festa. Como bem diz o ditado, "depois da tempestade, não vem a bonança", mas sim, mais erosão e desafios para a flora e fauna locais.
A transformação não parou por aí. Rios que antes eram perenes hoje brincam de esconde-esconde, aparecendo apenas em certas épocas do ano, complicando a vida da flora aquática e dos agricultores, que já não sabem mais se plantam ou se rezam por um clima mais ameno.
Mas como em toda boa história, sempre há uma luz no fim do túnel. Projetos como o Frutificar surgiram como o cavaleiro branco, prometendo revitalizar a economia através da fruticultura irrigada, apostando em práticas mais sustentáveis e diversificadas, mas não foi para frente.
Incentivos fiscais de ICMS também foram dadas aos produtores de leite, mas mesmo assim a quebradeira foi geral, as cooperativas de Leite se arrastam em dívidas.
A lição que fica é clara: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". A persistência na busca por soluções e alternativas sustentáveis pode, sim, reverter o quadro de degradação. Mas é preciso agir rápido, pois como diz o ditado, "o futuro pertence àqueles que se preparam para ele hoje".
Desertificação de rio causa prejuízos e gera êxodo rural
Entre o Verde e o Seco: A Batalha do Noroeste Fluminense
Sertão fluminense: o avanço do semiárido no norte e noroeste do Rio
No coração do estado do Rio de Janeiro, uma paisagem que mais se assemelha ao sertão nordestino vem se desenhando com contornos cada vez mais definidos. As regiões Norte e Noroeste do estado, conhecidas por suas estiagens prolongadas, estão à beira de uma transformação climática que pode redefinir seu futuro e o de seus habitantes. A média anual de precipitação nessas áreas, já abaixo dos 800mm, sinaliza uma tendência alarmante: a possibilidade de se tornarem semiáridas nas próximas décadas.
João e Frank Moraes, irmãos que pastoreiam o gado em Cardoso Moreira, são testemunhas vivas dessa mudança. "Verde só tem na beira do rio", lamenta João, enquanto observa o capim queimado que alimenta seu gado magro. A realidade deles é um retrato da crise que se instala, onde a produção de leite cai e a sobrevivência se torna um desafio diário.
Chuvas Escassas e o Fantasma da Desertificação
A precipitação média anual, mais baixa da Bacia do Rio Paraíba do Sul, e o relevo desolado próximo ao Rio Muriaé, em Itaperuna, são evidências claras da severidade do problema. José Carlos Mendonça, professor de agrometeorologia e doutor em Produção Vegetal da Uenf, destaca a crescente aridez e a redução no volume de chuvas como sinais de um futuro preocupante. "Já vivemos, todos os anos, pelo menos três a cinco meses de clima que se assemelha ao de savanas", alerta.
A Luta pela Sobrevivência e a Busca por Soluções
Diante desse cenário, a comissão especial da Câmara em Brasília discute a criação de um fundo para áreas afetadas pelas estiagens no Norte e Noroeste Fluminense, uma medida que se faz urgente. Enquanto isso, pequenos produtores como César Augusto Passos da Silva enfrentam dificuldades crescentes para alimentar os animais e garantir água para consumo próprio. "A prefeitura prometeu poços artesianos, mas nunca fez", desabafa César, evidenciando a necessidade de ações concretas e imediatas.
Entre a Esperança e a Ação: O Caminho para o Futuro
A situação exige uma resposta rápida e eficaz. A adoção de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, o manejo adequado dos recursos naturais e a implementação de projetos que visem à recuperação das áreas degradadas são passos essenciais para evitar que o Norte e Noroeste Fluminense se transformem em um novo sertão.
Em meio a essa encruzilhada de desafios e oportunidades, a matéria evoca a sabedoria de Rui Barbosa: "A pior ditadura é a do meio ambiente. Contra ela, não há a quem recorrer". A luta contra a desertificação no Norte e Noroeste do Rio de Janeiro é um chamado à ação, um apelo por políticas públicas eficazes e pela mobilização de todos em defesa de um futuro sustentável.
Os principais aspectos:
- O Norte e Noroeste Fluminense, regiões hoje subúmidas secas, podem se tornar semiáridos em 10 a 15 anos devido às mudanças climáticas. Alguns municípios como Campos dos Goytacazes, Cardoso Moreira e São Francisco de Itabapoana já vivem de 3 a 5 meses por ano com clima semelhante ao de savanas.
- As chuvas estão mais escassas e mal distribuídas, com temporais que provocam inundações. A média anual de precipitação em algumas áreas já fica abaixo dos 800mm, índices semelhantes aos de trechos do Nordeste.
- Isso tem impactado a produção agropecuária, com animais mais magros, queda na produção de leite e obstáculos para os agricultores tirarem sustento do campo. Pequenos produtores sem recursos sofrem ainda mais com as secas.
- Do plantio de cana à pecuária, há redução da atividade econômica. Rios importantes como o Paraíba do Sul têm baixa vazão, com surgimento de ilhas e bancos de areia.
- Em 2017, um dos anos mais severos, 18 dos 22 municípios decretaram emergência, com perda de rebanhos e cenas de terra rachada como no sertão. Os prejuízos ultrapassaram R$ 70 milhões.
- Desmatamento elevado e mau uso do solo e recursos hídricos agravam o quadro. Se nada for feito, especialistas alertam para o empobrecimento ainda maior da população dessas regiões, que já têm os menores IDHs do estado.
- Na Câmara dos Deputados, uma comissão especial discute a criação de um fundo para desenvolvimento do Norte e Noroeste Fluminense, como medida para tentar mitigar os impactos das mudanças climáticas nessas áreas.
Para o professor Hugo Barbosa Amorim, da UFRRJ, a melhor opção para combater o fenômeno é mudar a atual legislação de plantio e promover o cultivo por empresas privadas.
Ao longo dos últmos 200 anos, a região Noroeste do estado do Rio sofreu um longo processo de desmatamento, que traz como conseqüência uma gradual e constante tendência de desertificação do solo das cidades da região. Os reflexos desse processo se fazem sentir em várias esferas: a ambiental, a econômica e a social.
A desertificação não acontece do dia para a noite: ela é lenta e compreende várias etapas. Sem a vegetação para protégé-lo, o solo é aos poucos lavado pelas águas da chuvas e perde seus nutrientes. A luz do sol incide diretamente sobre o chão e o resseca, abrindo fendas conhecidas como voçorocas. Na última etapa do processo, que ainda não se iniciou na região, a argila torna-se areia e a desertificação tem seu fim.
“No Noroeste do estado, as causas desse processo são exclusivamente humanas e se devem exclusivamente ao desmatamento”, diz o professor Hugo Barbosa Amorim, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Sobretudo nos últimos 50 anos, por conta das várias culturas e ciclos econômicos da região, o ciclo se acelerou.”
Um terço do território do estado é tomado por pastagens
Para o professor, o fenômeno agrava o quadro de pobreza do Noroeste fluminense.
“O resultado disso é o êxodo para as cidades grandes, a migração de populações que vão ter condições de vida precárias na capital. Mas o que temos ali é um quadro de pobreza e abandono que já vem de há muito tempo. Não é nem possível dizer que a desertificação afeta o agronegócio, porque na verdade nunca houve agronegócio ali. Só agora esse setor começa a dar sinais”, diz o acadêmico.
Amorim defende que o reflorestamento feito diretamente pelo poder público é uma solução cara e inefetiva.
“O estado do Rio tem de 30 a 35% do território tomado por pastagens, a maior parte improdutivas. Se formos reflorestar, em 20 anos teremos ocupado 10% disso. É um processo lento, caro e ineficiente. São Paulo é um bom exemplo disso: só conseguiu reflorestar 3% do seu território. É uma saía ruim.”
Reformar a legislação para incentivar plantio privado
Segundo o professor, a melhor saída seria reformar a legislação vigente e incentivar as culturas privadas e com fins lucrativos.
“Conheço bem as empresas de papel e celulose e sei que elas querem muito investir. Para o proprietário de terras da região seria excelente também, porque ele não teria risco nenhum, apenas alugaria o terreno para essas empresas. Mas o que acontece é que, por uma legislação arcaica e muito mal feita, o plantio de eucalipto é praticamente proibido.”
Perguntado então o que o poder público pode fazer para reverter o problema da desertificação da região, Amorim é categórico: reformar a lei de plantio.
“Estamos perdendo oportunidades por besteira. A Aracruz quer pôr dinheiro lá, quer investir no plantio de eucalipto, que é um reflorestamento, e na fruticultura. Mas existe um certo ambientalismo retrógrado, que inspirou a legislação atual, e que não sabe o que é desenvolver uma região, o que é gerar empregos e aquecer uma economia. Existem outras culturas interessantes para lá, como as seringueiras. Mas para isso é preciso que o governo se mexa, incentive, promova a legislação adequada”, defende o professor.
Por Ralph Lichotti
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