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Entre projetos, esquadros e trenas, a engenheira civil Isis Sousa da Silva, de 24 anos, é a única mulher na supervisão de um dos maiores empreendimentos habitacionais do Governo do Estado do Rio de Janeiro na Baixada Fluminense. Mas, em breve, ela pode ter a companhia de mais profissionais do sexo feminino no canteiro de obras. Para marcar o Dia Internacional da Mulher, o secretário de Habitação de Interesse Social, Bruno Dauaire, publicou uma resolução para que pelo menos 5% das vagas nos serviços de engenharia nos contratos da pasta sejam destinadas a mulheres.
"É essencial combater a desigualdade que existe há séculos no mercado de trabalho, inserindo mulheres capacitadas também na construção civil, pois assim somamos qualidade técnica e competência ao nosso quadro de funcionários. Além disso, muitas delas são chefes de família e contribuem diretamente para o sustento de seus lares. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para ajudá-las a ter seus direitos garantidos", afirma o secretário.
Uma das poucas num ambiente predominantemente masculino, a técnica em Segurança do Trabalho Dyane Nascimento, de 22 anos, comemora a resolução, e torce para que mais espaços sejam ocupados por mulheres de forma espontânea. "É muito interessante essa ação dos 5%, porque medidas assim acabam por moldar os hábitos de uma sociedade, cria uma cultura. Espero que, com o tempo, a iniciativa que hoje é uma obrigação das empresas se torne um hábito espontâneo", opina Dyane.
Além de preconceitos e estereótipos
Dyane atua nas obras de reforma e requalificação do Conjunto Habitacional Parque Valdariosa, em Queimados, onde supervisiona 65 trabalhadores. Moradora do Centro da cidade onde trabalha, ela conta que precisou superar muitos obstáculos para continuar na carreira que escolheu.
"Encontrei bastante preconceito pelo caminho, não só por ser mulher, mas também pela pouca idade. Já cheguei a liderar funcionários que tinham a idade do meu pai, em equipes de 300 pessoas. Infelizmente, muitos homens têm dificuldade de lidar com isso. Mas não tem jeito, é preciso se posicionar, ter um psicológico forte para enfrentar críticas e, com o tempo, criamos resistência", relembra.
Pós-graduanda em gestão de obras civis, Isis Sousa é a responsável pela supervisão da construção do empreendimento que vai erguer 423 moradias na Favela do Lixão, em Duque de Caxias. Entrou na área superando o estereótipo de que "não deveria estar em um ambiente cheio de homens".
"Felizmente, nunca aconteceu de um funcionário me desrespeitar, mas sei que nesse meio é necessário saber se impor, tratar todos bem sem perder a postura de chefe e líder. Nós, mulheres, temos muita capacidade para exercer a função de engenheira, pois somos fortes, inteligentes, organizadas e responsáveis", pontua a engenheira, que nasceu e cresceu em Realengo.
Isis aproveita ainda para deixar um recado para as futuras colegas que serão selecionadas: "não vai ser fácil a caminhada, então é preciso se dedicar ao máximo com cursos, pós-graduações e afins. O mercado mudou muito ao nosso favor, então não desistam dos seus sonhos, porque aos poucos conseguimos nosso lugar, tornando nossa presença natural e sendo notadas pelo nosso trabalho", conclui a engenheira civil.
Da Editoria Última Hora
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