Teatro Brasileiro Revigorado

Teatro Brasileiro Revigorado

A cultura volta a florescer e com ela o teatro.  O ano começou a todo vapor com inúmeras peças estreando, outras reestreando em especial no eixo Rio e São Paulo. Um cardápio bem variado, pra todo gosto.

Felizmente o melhor desse retorno são os teatros lotados. É uma alegria e um indicador a ser comemorado. Muitos aspectos contribuíram para essa realidade. A persistência dos artistas, obviamente é a principal. Sem a determinação da classe artística seria impossível essa retomada. Viemos de tempos muito difíceis por motivos diversos, destacando-se a pandemia e recuo das políticas públicas para o setor. Por pouco a cultura sucumbe, mas ela por si só, tem asas, sonhos e pés fincados no seu propósito e no poder que tem. Não enverga fácil. Renasceu das cinzas.

Da Covid-19 restou-nos tirar algo de positivo em meio a tanta dor. Se pudermos destacar algum saldo foi a aproximação de muitos ao setor cultural. Trancados em casa, sem qualquer possibilidade de convívio social, a arte salvou e resgatou gente por toda parte. O teatro entrou nessa jogada e fez sua melhor performance.

Atraiu ao tablado gente que nunca havia ido ao teatro e despertou outros tantos. Segundo dados da recente pesquisa Hábitos Culturais II, realizada em conjunto pelo Itaú Cultural e pelo Datafolha, relata que 76% dos entrevistados informaram que passaram a se conectar todos os dias na internet e nas redes. Antes, o índice era de 71%. O consumo de apresentações artísticas virtuais de teatro, dança e música disparou.

E o melhor; este ano esse número dobrou. Outro dado importante registrado na mesma pesquisa mostra que as atividades online aumentaram o interesse do público em cultura, principalmente a turma mais jovem: 72% das pessoas afirmaram que, de outra forma, não teriam acesso a produtos culturais. Apesar desses dados animadores, não se pode perder o foco de que ainda há caminho a ser construído, sobretudo na questão do acesso.

Outra pesquisa revela que apenas 23,4% dos municípios brasileiros possuem teatros ou salas de espetáculo e os pontos de acesso que existem atingiram a marca de 3.422 espaços.

O que denota um número muito pequeno para um país com uma extensão territorial como o nosso. Mas de todo modo, há um respiro, um alívio, uma felicidade.

Para um setor que estava vivendo dias asfixiantes, esses dados são revigorantes, um bálsamo. Em minha freqüência ao teatro, tenho visto salas lotadas ou quase, em assistência a comédias, musicais, clássicos, releituras, monólogos, infantis, shows, concertos, exposições e por aí vai. Enfim tem pra todo gosto, idade e estilo. Isso indica mais uma vez o poder e a lucidez que a cultura produz desde sempre, além de sua irreversível capacidade de tocar no humano, nos ajudando nas esquinas da vida.

Unindo a esse revigorante momento, em comemoração aos 86 anos de Amir Haddad, grande mestre do teatro, daqueles completamente comprometidos e dedicados, acontece somente esse mês o Festival de Teatro Amir Haddad cheio de atrações inclusive com atividades gratuitas.

Viva Amir e seu potente teatro.  E ainda, a feliz lembrança de termos como herança cultural o exímio Sergio Brito que se vivo fosse completaria cem anos e nos deixou um legado admirável.

Amparados em Dom Quixote, sigamos lutando quando é fácil ceder, vencendo inimigo invencível para o mundo ver brotar uma flor nesse impossível chão. O teatro sempre estará a postos na história da humanidade, seja lá como for. A história comprova.

Por Rogéria Gomes

Teatroemcenanoradio@gmail.com

Por Jornal da República em 04/07/2023
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