Ter histórico de câncer ou doença arterial coronariana pode reduzir risco de demência

Descoberta de pesquisadores da Mayo Clinic revela uma conexão surpreendente entre essas condições.

Ter histórico de câncer ou doença arterial coronariana pode reduzir risco de demência

ROCHESTER, Minnesota – A população mundial está envelhecendo e os riscos de demência, câncer e doença arterial coronariana aumentam com o avanço da idade. Até o momento,  a conexão entre essas condições não estava plenamente compreendida. Agora, os pesquisadores da Mayo Clinic relatam uma descoberta intrigante: ter histórico de câncer ou doença arterial coronariana pode reduzir o risco de demência. Os resultados do estudo foram publicados na revista médica Journal of Alzheimer's Disease.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que quase um quinto da população brasileira é composta por pessoas com 60 anos ou mais e  segundo o Ministério da Saúde estima-se que  até 2030, o número de idosos no país deve superar o de crianças e adolescentes. Diante desses números, é natural que preocupações sobre o aparecimento de enfermidades relacionadas ao envelhecimento aumentem entre a população em geral e a classe médica. Entre elas, a demência é uma das condições que mais geram dúvidas e alarme entre os pacientes mais velhos. Apenas no Brasil estima-se que cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano, sendo mais da metade dos diagnósticos sendo um tipo de Alzheimer.

Para o estudo, os pesquisadores  procuraram determinar como um histórico de câncer ou doença arterial coronariana pode influenciar o risco futuro de demência. Entre 1998 e 2020, eles analisaram dados de um único grupo de participantes do estudo da Mayo Clinic que morrerem com idade de 95 anos ou mais. Essas pessoas foram submetidas a uma autópsia e doaram os cérebros para o Banco de Cérebros da Mayo Clinic para serem pesquisados.

Os pesquisadores avaliaram os registros médicos para histórico de câncer e doença vascular, como doença arterial coronariana e diabetes. Análise estatística, laudos de neuropatologia e modelagem foram utilizados para conduzir o estudo.

Os pesquisadores descobriram que o histórico de câncer reduziu o risco de demência e estava associado a uma menor quantidade de alterações cerebrais da doença de Alzheimer, como o acúmulo de proteína tóxica tau, uma característica da doença. “Pode ser que mudanças moleculares subjacentes que se opõem entre si possam estar acontecendo,” afirma Dra. Melissa Murray, Ph.D. neurocientista e autora sênior do estudo. “O câncer quer se proliferar, expandir e crescer; por outro lado, as mudanças moleculares associadas à doença de Alzheimer querem matar as células cancerígenas. Isso pode ser comparado a um cabo de guerra”. A Dra. Murray lidera o Laboratório Translacional de Neuropatologia, na Mayo Clinic Flórida. 

Os pesquisadores afirmam que é possível que genes e mecanismos comuns normalmente envolvidos no crescimento e manutenção das células possam ser regulados em direções opostas. Eles supõem que o crescimento dos mecanismos pró-crescimento possa aumentar o risco de câncer, enquanto o aumento dos mecanismos de morte celular possa aumentar o risco de demência. Embora não estudados neste artigo, eles observam que os tratamentos para o câncer (como a quimioterapia) também podem afetar as células cerebrais e impedir a formação e disseminação de proteínas associadas a doenças neurodegenerativas relacionadas à idade. Eles afirmam que um entendimento mais aprofundado sobre o que está acontecendo dentro dos cérebros dos pacientes, durante e após o tratamento contra câncer, beneficiaria a identificação dos fatores que promovem ou impedem a demência.

A equipe da pesquisa também estudou os riscos dos fatores vasculares, como tabagismo, hipertensão e diabetes, no cálculo das probabilidades de desenvolvimento de demência. Embora todas essas condições aumentem o risco, os pesquisadores descobriram que o diabetes era o fator de risco mais forte. Surpreendentemente, os pesquisadores descobriram que o histórico de doença arterial coronariana também diminuiu o risco de demência. A hipótese é de que isso poderia estar associado aos benefícios do tratamento ao longo de muitos anos para uma doença conhecida. Os medicamentos usados para tratar a doença arterial coronariana são desenvolvidos para reduzir as placas perigosas nas artérias coronárias e promover a saúde dos vasos sanguíneos no cérebro.

Os pesquisadores reconhecem que o controle dos fatores de risco vascular é uma estratégia promissora para diminuir o risco de demência e afirmam que os resultados dos estudos apoiam a adoção de um estilo de vida saudável em geral. 

“Creio que isso indica realmente a necessidade de enfatizar como é importante evitar o diabetes e a potencial importância de receber tratamento para doença arterial coronariana”, afirma a Dra. Murray.

Esta pesquisa foi parcialmente financiada pelas seguintes organizações dos EUA: Alzheimer's Association (Associação de Alzheimer), National Institute on Aging (Instituto Nacional do Envelhecimento), National Institute of Neurological Disorders and Stroke (Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e AVC), Florida Department of Health (Departamento de Saúde da Flórida) e Ed and Ethel Moore Alzheimer's Disease Research Program (Programa de Pesquisa da Doença de Alzheimer Ed e Ethel Moore).

Leia o artigo publicado para verificar a lista completa das fontes de financiamento, autores e divulgações. 

JORNALISTAS: as informações contidas neste artigo podem ser citadas e atribuídas à Mayo Clinic. Para entrevistar a Dra. Melissa Murray ou qualquer outro especialista da Mayo Clinic, entre em contato com a área de Relações Institucionais da Mayo Clinic em newsbureau@mayo.edu. 

Para mais informações sobre a pesquisa na Mayo Clinic, acesse a revista Discovery’s Edge.

 

Por Jornal da República em 07/12/2022
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