Trabalho por aplicativo revela ‘economia imoral, mascarada por suposta liberdade’, afirma professora dos EUA

Trabalho por aplicativo revela ‘economia imoral, mascarada por suposta liberdade’, afirma professora dos EUA

No segundo dia do congresso dos juízes do Trabalho, ontem (28), a professora de Direito Veena Dubal, da Universidade da Califórnia (EUA), ressaltou a natureza “predatória” de novas modalidades de contratação, como o trabalho por aplicativo. “O que encontrei em mais de uma década de pesquisa etnográfica entre os trabalhadores de plataformas digitais, incluindo motoristas de Uber e trabalhadores da Amazon, foi uma economia imoral, mascarada por uma suposta liberdade, flexibilidade e oportunidade”, afirmou a estudiosa.

Ela participou do 20º Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat), organizado pela associação da categoria (Anamatra), que começou na quinta e vai até amanhã (30), em Ipojuca (PE). E contestou o discurso de que se trata um modelo de empreendedorismo. Na verdade, quem trabalha nessas plataformas digitais são “controlados” por meio de contratos, via algoritmos e vigilância de dados.

“As plataformas trabalhistas atuais, com seus modelos de negócio facilitados pelo capital de risco, ideologias guiadas por monopólio e resistência às leis trabalhistas. se criam e dependem de economias de trabalho profundamente imorais”, afirmou ao plenário. Aproximadamente 400 juízes participam do evento. Veena acredita que o mundo vive uma nova forma de “colonialismo”, mediante a prática de exploração e inclusão que ele chama de “predatória”.

“Olhando para trás, para a Revolução Industrial, sabemos que tipos de práticas trabalhistas exploratórias podem surgir se o Estado não intervir agora. E sabemos suas consequências a longo prazo.  Já é hora dos legisladores — inclusive nos Estados Unidos e no Brasil – reconhecerem que, embora as tecnologias digitais possam ser deslumbrantes, elas criam e recriam novas e antigas formas de exploração”, afirmou a professora.

No Brasil, onde não há jurisprudência consolidada, as decisões judiciais sobre o trabalho por aplicativo têm sido conflitantes. Segundo o juiz Hugo Cavalcanti Melo Filho, há em um curso uma “guerra jurisprudencial”. “Vamos admitir a narrativa de que os trabalhadores de plataformas são autônomos, microempresários, ou reconhecer a condição de trabalhadores subordinados empregados?”, questionou.

O professor português João Leal Amado, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, abordou as mudanças no Direito do Trabalho nas últimas décadas, com a chamada “flexibilização” das leis. E observou que as “reformas” não devem resultar em redução de direitos fundamentais, embora acompanhem as transformações sociais. “Sempre preservando o Estado democrático de direito, observando o que prevê a Constituição”, acrescentou.

Por Jornal da República em 29/04/2022
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