Triplo A: Questão Ambiental ou Manobra Política?

Triplo A: Questão Ambiental ou Manobra Política?

Por Marcia Silva de Jesus 

O Triplo A, Caminho da Anaconda ou Corredor AAA foi, inicialmente, uma proposta ambiental da fundação Gaia Amazonas muito bem aceita pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos, para a construção de um “corredor ecológico transnacional” ligando o Andes ao Atlântico, passando pela floresta Amazônica (por isso os três “A” do nome), com uma extensão de 136 milhões de hectares. Essa proposta foi inicialmente apresentada durante a COP21 em 2015, para diminuir o desmatamento, mitigar os efeitos das mudanças climáticas e preservar a biodiversidade.

De acordo com a Associação O Eco, o Corredor AAA seria um mosaico de áreas protegidas que no total possuiria 309 áreas protegidas (957.649 km2) e 1.199 terras indígenas (1.223.997 km2) interligadas a partir do maior corredor ecológico do mundo. A previsão era que a área preservada poderia abranger oito países sul-americanos que são Peru, Brasil, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Colômbia. Porém, o maior desafio, segundo Martin von Hildebrand, fundador da Fundação Gaia seria conseguir articular todos esses países, tanto pelas diferenças ideológicas como pelos conflitos de interesses.

Corredor Triplo A

O lado ambiental do corredor

Em 2017, o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais indicou que, estava sendo perdida a conexão entre os Andes e a Amazônia. Esta desconexão é uma ameaça não só para a água, mas também para o intercâmbio genético entre a fauna e a flora da mata.

Vejamos, a Floresta Amazônica funciona como uma “bomba d’água”, através de um fenômeno denominado evapotranspiração, em que há a perda de água do solo por evaporação e a perda de água da planta por transpiração. Parte do volume de água, formado a partir desse fenômeno, transforma-se em chuvas que caem na própria floresta e a outra parte é transportada pela atmosfera, conhecidos como rios voadores. Os fluxos aéreos de água que vêm de áreas tropicais do Oceano Atlântico são alimentados pela própria floresta Amazônia.

Esses rios, que atravessam a atmosfera rapidamente sobre a Amazônia até encontrar com os Andes, causam chuvas a mais de 3 mil km de distância, no sul do Brasil, no Uruguai, no Paraguai e no norte da Argentina e são vitais para a produção agrícola e a vida de milhões de pessoas na América Latina. Antonio Nobre, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) enfatiza “Nós fizemos a conta … e surgiu o incrível número de 20 bilhões de toneladas (ou 20 bilhões de litros) de água que são produzidos todos os dias pelas árvores da Bacia Amazônica”. A dependência por essa floresta ultrapassa as fronteiras brasileiras. Por isso, a integração do Corredor AAA seria uma alternativa de preservação e conservação do ambiente e dos fenômenos climáticos.

Além disso, seria uma ótima manobra contra o desmatamento que vem se alastrando na região da floresta Amazônica, que cresceu 13,7% entre agosto de 2017 e julho de 2018. Mas ainda falta muito embasamento técnico e científico para justificar a implementação do AAA.

A manobra política – xeque

O problema, no entanto, é a questão política interligada com esse assunto, que embora a proposta do Corredor AAA possa de fato colaborar para a proteção ambiental, pode também ser de difícil implementação por assumir um compromisso internacional sobre territórios de diferentes governos e isso envolve acordos e consensos.

No território brasileiro por exemplo, o que vem ganhando destaque, tanto nacional quanto internacionalmente nos últimos meses, foram as palavras do presidente eleito, Jair Bolsonaro, ao afirmar que pediu ao atual governo para que o Brasil desistisse de sediar a Conferência do Clima da ONU – a COP 25 – em novembro de 2019. De acordo com o jornal O Globo, o presidente eleito disse “Houve participação minha nessa decisão. Ao nosso futuro ministro (Ernesto Araújo, das Relações Exteriores) eu recomendei que evitasse a realização desse evento aqui no Brasil. Até porque está em jogo o Triplo A nesse acordo. O que é o Triplo A? É uma grande faixa que pega do Andes, a Amazônia e Atlântico, de 136 milhões de hectares, que poderá fazer com que percamos a nossa soberania nessa área”. O presidente costuma usar a ideia do “AAA” para desafiar defensores ambientais mesmo que não estejam relacionadas ao projeto colombiano, como o Acordo de Paris, alerta.

A implementação do Triplo A seria, nada mais que uma manobra política de vizinhança entre os governos dos países integrantes, principalmente Brasil, Venezuela e Colômbia. Visto que, o Triplo A não tem relação nenhuma com o Acordo do Clima.

Ponto de equilíbrio – mate

As políticas governamentais e as instituições sociais são determinantes na qualidade ambiental. Por isso uma proposta ambiental de tamanha dimensão deve ser minuciosamente estudada, considerando todos os aspectos (ambiental, político, social e econômico), o que soa como algo inatingível e muito difícil de se concretizar, assim como a implementação de diversos projetos e atividades. O que não significa que seja um erro, mas algo para ser revisto.

Fonte Mata Nativa

 

Por Jornal da República em 05/02/2023
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