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Uma nova pesquisa paleontológica revelou a descoberta de uma vespa parasita que habitava a Terra há 99 milhões de anos, durante o período Cretáceo. O inseto, recentemente identificado, desenvolveu uma estrutura estranha para capturar criaturas e forçá-las a se tornar hospedeiras involuntárias para seus ovos. O estudo, publicado na revista BMC Biology, revela que a vespa, chamada Sirenobethylus charybdis, possuía um mecanismo parecido com o da dioneia, uma planta carnívora, em seu abdômen.
Os pesquisadores analisaram 16 espécimes preservados em âmbar, datados da mesma época, encontrados na região de Myanmar. O entusiasta de fósseis que adquiriu o âmbar no passado o doou em 2016 à Universidade Normal da Capital, em Pequim, onde os cientistas investigaram a estrutura peculiar do inseto. Ao observar o primeiro espécime, Lars Vilhelmsen, especialista em vespas e coautor do estudo, inicialmente pensou que a expansão no abdômen da vespa fosse uma bolha de ar, algo comum em espécimes em âmbar. No entanto, após mais análises, Vilhelmsen percebeu que se tratava de uma estrutura móvel que poderia ser usada para capturar outros insetos.
A comparação mais próxima encontrada na natureza moderna foi com a dioneia, uma planta cujas folhas se fecham para capturar presas. Contudo, ao contrário do que se poderia imaginar, os pesquisadores acreditam que a vespa não utilizava sua estrutura para matar as criaturas que pegava. Eles sugerem que ela injetava seus ovos no corpo do hospedeiro preso, usando-o como incubadora para suas larvas, que se alimentavam do hospedeiro e provavelmente o devoravam por completo.
Apesar de o comportamento das vespas parasitoides modernas não ser idêntico ao descrito para Sirenobethylus charybdis, ele se assemelha ao observado em algumas espécies de vespas, como as vespas-cuco, que põem seus ovos no ninho de outras vespas, permitindo que suas larvas se alimentem dos filhotes dos hospedeiros.
A descoberta adiciona um novo capítulo ao estudo dos fósseis em âmbar, que proporcionam uma visão tridimensional detalhada do passado. A preservação de diversas criaturas no âmbar, como formigas, aranhas, dinossauros e outros insetos, tem proporcionado insights valiosos sobre a fauna do Cretáceo. Porém, a origem do âmbar, proveniente de Myanmar, levantou questões éticas, especialmente após o golpe militar ocorrido no país em 2021. Alguns paleontólogos pediram uma moratória nas pesquisas envolvendo esse material.
De acordo com Phil Barden, professor do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, a descoberta é significativa porque revela adaptações que não se encontram entre as espécies vivas atualmente. “Mesmo com toda a diversidade de insetos, o registro fóssil continua a surpreender com descobertas que estão além da imaginação”, afirmou Barden, que não participou do estudo.
Com a estrutura abdominal da vespa sendo única, os pesquisadores ainda não descartam a possibilidade de que ela tivesse um papel também durante o acasalamento, dado que todos os espécimes analisados eram fêmeas. A descoberta de Sirenobethylus charybdis é, para Vilhelmsen, um exemplo de como o estudo de fósseis pode desafiar nossas expectativas, revelando criaturas cujos comportamentos e adaptações são totalmente inéditos. "É algo que eu jamais esperava ver", concluiu ele.
Fonte: CNN
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