Vítimas de violência doméstica encontram nos centros de atendimento a chance de romper ciclo

Vítimas de violência doméstica encontram nos centros de atendimento a chance de romper ciclo

“Eu sempre assisti a essas coisas pela TV, mas nunca achei que pudesse acontecer comigo. A gente pensa: ‘Não, ele não é capaz de fazer isso’. A verdade é que ele só não me matou porque um vizinho me socorreu.” O desabafo, em tom de alerta, é de Amanda (nome fictício), de 27 anos, que sofreu uma tentativa de feminicídio em julho deste ano. O ex-companheiro com quem viveu por dois anos a atacou com oito facadas por não aceitar o término da relação.

 Três meses após o crime, as feridas do corpo ainda doem, mas não mais do que as cicatrizes emocionais que Amanda carrega. Por esse motivo, para tentar se reerguer e seguir em frente, ela procurou apoio no Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam) Baixada.

 A unidade, vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, fica no município de Nova Iguaçu, e conta com uma equipe multidisciplinar que oferece atendimento social, psicológico e acompanhamento jurídico dos casos denunciados por mulheres vítimas de violência física, moral, patrimonial, psicológica e sexual. Amanda disse que conheceu o Ciam por intermédio de uma amiga:

“Aqui encontrei apoio para seguir em frente. Fui muito bem recebida, respeitada, ouvida. A equipe está fazendo por mim coisas que ninguém nunca fez, como me orientar a correr atrás dos meus direitos. Se não fossem essas mulheres que me receberam e me acolheram, eu estaria perdida”, ressaltou.

Amanda contou ainda que as agressões começaram quando ela estava grávida de sete meses ao descobrir uma traição do marido.

 “Ele sempre foi uma pessoa tranquila, e nós éramos amigos antes do namoro. Ele me pedia muito um filho e, nesse período da gravidez, se mostrou totalmente diferente, saía muito e bebia. Até que, quando eu estava com sete meses de gestação, descobri uma traição, e ele me bateu pela primeira vez: deu um soco na minha barriga e me enforcou”, relembrou a vítima.

A trajetória de sofrimento de Amanda não estava perto de acabar. Ela foi agredida mais duas vezes depois do primeiro episódio. Quando o filho nasceu, decidiu se separar.

“Descobri mais uma traição, e ele não aceitava o término da relação de jeito algum, me agredia. Depois, me manipulava, chorava e pedia perdão. Mesmo já separado, com outra mulher, ele invadiu a minha casa durante uma festa de família e me deu oito facadas. Naquele momento achei realmente que fosse morrer. Fiquei duas semanas sem conseguir levantar da cama e sem poder cuidar do meu filho.

De janeiro a setembro de 2021, o Ciam Baixada realizou 4.310 atendimentos, entre primeiros acolhimentos e acompanhamentos de casos. Este centro atende a 13 municípios, inclusive alguns bairros da Zona Oeste, como Bangu e Sepetiba. A estrutura do Ciam Baixada também oferece suporte a vítimas de municípios distantes, como Mangaratiba, na Região da Costa Verde.

 “Nós temos o dever de fortalecer essas mulheres que chegam aqui totalmente fragilizadas. Nosso papel é acolher, orientar e encorajar com um atendimento completo e humanizado. Temos toda uma rede integrada e podemos encaminhar, quando necessário, para o sistema de saúde e vagas de emprego. Tenho muito orgulho desse trabalho tão importante para salvar a vida dessas mulheres”, enfatizou a coordenadora do Ciam Baixada, Sônia Lopes .

 Psicóloga da unidade, Niedja Barbalho falou sobre o impacto desse acolhimento na vida das mulheres.

 “Tudo começa com esse primeiro passo para que elas se sintam fortalecidas para continuar com o acompanhamento. Por meio desse acolhimento, se inicia todo o processo de mudança na vida dessas mulheres. A partir disso, elas se sentem seguras para conseguir se libertar do ciclo da violência”, enfatizou a profissional.

 A assistente social Cláudia Janiques explicou como é feito o trabalho da equipe.

 “A partir do primeiro acolhimento, a gente vai percebendo quais são as demandas dessas mulheres. Se são questões sociais, de habitação... porque muitas vezes elas não têm local para ficar e parentes para ajudar. Se a vítima estiver em situação iminente de morte, a gente faz o acolhimento em abrigos do estado, além de verificar seus direitos, como programas de transferência de renda e questões previdenciárias. Nosso atendimento não trata a violência como um problema isolado, tentamos auxiliar a mulher da forma mais completa possível”, explicou Cláudia.

 Considerando a importância do acolhimento às mulheres vítimas de violência, o Governo do Estado vai investir R$ 5 milhões para obras de revitalização em três unidades dos Centros Integrados/Especializados de Atendimento à Mulher, além de intervenções no prédio do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim/RJ). As três unidades que vão receber as reformas serão definidas em diálogo com o Cedim.

 A rede de Centros de Atendimento à Mulher do Estado do Rio, composta por nove unidades em todo o estado, realizou 7.149 atendimentos a mulheres vítimas de violência de janeiro a agosto de 2021. O modelo, que funciona por meio de parcerias entre o governo estadual e as prefeituras, é adotado desde o começo do programa, há 20 anos, e possibilitou sua expansão nos últimos três anos, quando o número de centros triplicou no Rio de Janeiro.  (Do Governo do Estado, Foto de Luis Alvarenga)

 

Por Jornal da República em 30/10/2021
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